sábado, 20 de julho de 2013

Acordei cedo. Fui até o quarto de Jorge. Ele dormia. Sentei no chão perto da cama e fiquei olhando pra ele.

Qual é o padrão de beleza? É só uma pergunta retórica, não quero uma resposta, não. Não acredito em um padrão de beleza. Se existe algo que mudou na história da humanidade são padrões de beleza. Basta visitar um museu e admirar algumas esculturas e quadros famosos para se certificar disso...

Jorge se enquadra em algum padrão. Sim, pra mim. Ele é belo com certeza. E olhando-o dormir, senti uma ternura imensa por ele. Gostaria de amá-lo. Mas não o amo... não como uma mulher ama um homem. Amo-o como a um irmão... a um amigo verdadeiro. Jorge é como se fosse uma extensão de mim. Não isso de alma gêmea, de cara metade. Mas algo tipo.... tipo se sentir em casa.

Não sei explicar muito bem. Se eu acreditasse em um Deus que fez as pessoas, diria que esse Deus fez... criou, digamos assim... criou Jorge pra minha vida ser mais leve, ser colorida, até. Acho que é isto mesmo: esse Deus, se existisse, teria criado Jorge pra me fazer bem... me fazer me sentir bem.

Era impossível não estar bem perto dele.

Mas meu coração não batia acelerado quando pensava nele... eu não suspirava por ele.

Você entendeu: sei os diferentes tipos de amor.

Ele acordou, olhou pra mim e sorriu. Acariciou minha cabeça e disse: 'bom-dia menina apaixonada... apaixonante...'

Eu  suspirei... ele já sabia. E eu me odiei por não conseguir esconder. A última coisa do mundo que eu queria era vê-lo sofrer... fazê-lo sofrer.

Ele levantou, pegou minha mão, me levou até a piscina, me abraçou e pulou comigo nos braços na água gelada...

Ele sabia... eu sabia... não havia nada que eu pudesse fazer... nem ele.

A gente estava predestinado a ficar juntos... de uma maneira ou de outra. Se existe um orquestrador de vidas humanas... havia escrito nossas histórias de forma a se entrelaçarem... a ficarem juntas.

É possível isso?

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Depois do almoço, Jorge me levou de volta pra clínica. Combinamos que iríamos nos encontrar no fim da tarde para correr na praia.

A tarde correu tranquila; atendi a cinco pacientes - nada novo; passei visita em dois pacientes críticos.

No quarto de um deles me comovi... sempre me comovo com o olhar da esposa sentada na poltrona olhando para seu marido na cama. Ambos sabem que eles têm poucos tempo juntos. Então ela fica lá, no quarto com ele, segurando a mão e olhando... só olhando. Olhos nos olhos, quando ele está acordado... quando ambos estão acordados, na verdade. Às vezes um dos dois cochila...

Acho lindo que no mundo existam casais assim. Só acho que deveria haver em maior quantidade...

Depois de corrermos na praia, Jorge e eu ficamos conversando até quase de madrugada. Acabei dormindo na casa dele. Não queria ir para casa.

Durante o dia, chequei meu e-mail mais de trezentas vezes, acessei o face em cada instante que podia... nada de Noa. Claro, né!? O que é que eu estava esperando!??

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Estávamos almoçando quando chegou um amigo nosso - Miguel.

Miguel acabara de chegar da Europa. Três anos lá. Maravilhosos. Acabara de voltar ao Brasil porque conhecera há dez meses Mônica. Apaixonara-se e voltava agora para o Brasil para casar com ela. Receberíamos o convite logo, logo.

É, a vida segue seu curso. Há um lógica nos acontecimentos de cada um. Eu teria de me encaixar nessa lógica. Apaixonada já estava... faltava marcar o casamento. Sorri um sorriso idiota quando esse pensamento me passou pela cabeça.

Por alguns instantes minha mente divagou... Noa deveria estar voando ainda. Dentro de algumas horas desembarcaria na África - de onde jamais voltaria. Então, eu que não tivesse pensamentos idiotas. Eu que me mantivesse com os pés bem no chão. Eu que me lembrasse da promessa a mim mesma: jamais casarei, jamais terei filhos... “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”, é  assim que termina o livro que inaugurou o realismo no Brasil: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, escrito em 1881, e tão atual como se tivesse sido escrito  hoje. Tão pessoal como se tivesse sido escrito pra mim.

E eu sorri... outra vez... E me peguei sorrindo ainda várias outras vezes nos dias que se seguiram.

sábado, 6 de julho de 2013

Almoço

Combinamos de almoçar num pequeno restaurante italiano muito simpático em uma das transversais da Beira-mar. Jorge foi até à clínica me buscar.

Eu não me canso da beleza desse homem. O seu cabelo preto, sua pele morena sempre me fascinaram. Mas na hora que eu o vi, parecia estar descobrindo a beleza naquele momento.

Ele estacionou o carro, desceu e me abraçou e beijou como sempre. "Hum... usando seu perfume preferido...", disse ele. "E hoje você está mais linda... está brilhando."

Pra início de conversa, não sou linda... talvez eu não possa ser  considerada feia... bonitinha, talvez... mas é só, mesmo.

Claro, sei me vestir bem, quem me educou na frente do espelho foi minha tia... e ela tem um gosto impecável e as roupas mais lindas, chiques e caras que alguém pode ter. Então, independentemente de eu estar apenas vestida para o trabalho, eu estava muito bem vestida. Vestido branco, sapatos italianos marrons - presentes da minha querida tia - e um colar de cristais coloridos maravilhoso... um Swarovski - presente da vovó.

Minha bolsa também era impecável. Como todas as minhas bolsas, é claro. 'Olhe para uma mulher... olhe para seus sapatos e sua bolsa.... você vai saber na hora se ela tem bom gosto ou não', sempre me dizia minha tia. Claro que ela dizia 'bom gosto' e eu ouvia 'dinheiro'.

Fomos colocando a conversa em dia. Jorge me contou de que iria participar de uma exposição de seus trabalhos em Buenos Aires daí a cinco meses e perguntou se eu não queria aproveitar e ir junto.

Só havia ido uma vez a Buenos Aires e não tinha gostado muito da cidade, não... 'uma cidade cinza... é assim que ela é pra mim', dizia eu. 'Buenos Aires é uma capital fantástica... você é que não soube olhar bem pra ela', brincava ele comigo. 'No dia em que você for pra lá comigo, eu vou mostrar a Buenos Aires que você não conseguiu enxergar', ele sempre falava. E eu sorria....

"Talvez eu vá... deixe-me ver como está minha agenda pra daqui a cinco meses", respondi pra ele.

No restaurante escolhemos nossos pratos: antepasto de abobrinha e berinjela; Espaguete com abobrinha e camarão; e Abobrinha recheada com carne de siri e hortelã.

Foi um almoço de abobrinha desviando de abobrinha. A sobremesa: Fregolatta.... tudo sensacional.

"Agora me conte o que aconteceu", falou Jorge, depois de fazer o pedido e tomar um gole de água.

Eu olhei bem dentro dos olhos negros dele, descrevi detalhadamente cada quadro do dia anterior, narrei cada minuto do tempo que Noa passara comigo.

E aqueles olhos negros que ouviam silenciosamente tudo o que eu falava sorriram porque perceberam que eu tinha encontrado o amor.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Cheguei à Clínica às 8:45....



Meu primeiro paciente seria atendido às 9 horas. Repeti exatamente as mesmas ações de todos os outros dias em que clinicava. Estacionei o carro no mesmo lugar... percebi que o jardim estava mais florido, mais colorido. Eu percebi... na verdade ele estava exatamente igual a sempre... (o senso estético de nosso diretor se estendia a qualquer espaço da clínica), mas eu percebi, eu realmente olhei pro jardim... dirigi minha atenção a ele... e olha que não sou nem tão ligada a flores.

Gosto das flores... claro - de cravos - principalmente... mas não sou uma fissurada que vê as flores em qualquer lugar que elas estejam.... flores, árvores estão no mesmo nível pra mim.

Não gosto de ganhar flores... quando alguém tem preguiça de pensar em um presente, dá flores...

Deixe-me dizer que gosto de nuvens... olho as nuvens, sempre com um deslumbramento infantil. As nuvens me atraem, as nuvens tem um quê de mistério. Estão aí e de repente não estão mais...

Acho que você entendeu a diferença da minha relação com as flores e com as nuvens :)

A manhã passou exatamente igual a qualquer outra manhã de consultório. Eu é que estava diferente...

E quem percebeu, antes mesmo de mim mesma, foi Jorge.

Ao meio-dia ele me ligou para saber se eu estava livre para o almoço... e eu disse 'sim'.

E ele: 'o que aconteceu? sua voz está diferente'.

'Nada', disse eu....

'Aconteceu, sim.'

Foi nesse momento, tenho quase certeza, que Jorge me sentiu apaixonada.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Ninguém é feliz....


Ninguém é feliz o tempo todo. Ninguém é infeliz o tempo todo.

O que é exatamente a felicidade? Érico Veríssimo disse que 'Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente".

Bom, fico aqui pensando se há alguma vida que passa inutilmente? Acho que todo mundo é útil para alguma coisa... mesmo que essa alguma coisa seja pra mostrar como não se deve viver. Alguns são mais úteis, outros menos... não penso que haja um ser completamente inútil.

Pelo meu raciocínio, então todo mundo sente felicidade.

Mas, não é bem assim que funciona né!?

Não acredito que haja um estado pleno de felicidade... há sim momentos de felicidade e há o contrário também... momentos de infelicidade...momentos que se intercalam.

Tem gente que diz que há mais momentos de infelicidade do que de felicidade... Também não acredito nisso. Acho que há mais ou menos um empate entre eles.

O que acontece é que nós prestamos mais atenção nos momentos infelizes.... os felizes, muitas, mas muitas vezes mesmo, passam completamente despercebidos.

Acho que se hoje eu não estivesse tão infeliz, eu não iria dimensionar o tamanho da minha felicidade nos momentos com Noa ontem... certamente tudo o que aconteceu iria passar com uma percepção menor do que merecido.

Mas eu não estou de todo infeliz... há uma alegria enorme no meu coração. Ele sabe que agora está completo... então ele está muito feliz.... o que ele não sabe, não entendeu muito bem, ainda, que essa completude é clandestina....

É uma espécie de posse clandestina da sua outra metade - uma posse que se dá às ocultas, sem que o possuidor ou o proprietário da coisa tenha conhecimento.
 
É isso aí, lamentavelmente...


domingo, 30 de junho de 2013

O cansaço me venceu... adormeci por poucos segundos... pelo menos foi o que me pareceu quando o despertador tocou.

Não preciso de despertador. Todas as manhãs - normais - acordo exatamente um minuto antes de o despertador tocar... Acordar nas manhãs frias de inverno ou de verão (ar-condicionado sempre ligado no máximo = inverno no verão), com o despertador tocando ou não... simplesmente não é problema pra mim.

Hora de acordar é hora de acordar e pronto

Mas naquela manhã especificamente eu queria dormir pra sempre. Não no sentido de morrer, mas de apagar até o meu coração encontrar novamente a paz.

Que coisa mais incoerente. Conheci Noa há um dia.... um mísero dia. Agora só o que ocupa meus pensamentos é esse homem. Ocupou todo o espaço e deixou o coração tão apertado.

Claro, vou racionalizar tudo o que aconteceu do momento em que meus olhos encontraram os deles até o momento em que ele carinhosamente me abraçou e disse aquela maravilhosas palavras... e adeus.

Adeus não precisa ser pra sempre... já li isso em algum lugar. Claro, não precisa. Mas neste caso é pra sempre.

E quando penso nisso me falta o ar, dói o coração e eu me odeio por isso tudo. Como fui me deixar envolver? Por que segui o cheiro de festa? Por que a curiosidade de conhecer  quem fazia todas as enfermeiras, médicas... sei lá, acho que quase todas as mulheres da clínica suspirar?

Meu Deus como fui idiota. Eu estava tão bem... tão comodamente cômoda no minha área geográfica e emocional conhecida milésimo por milésimo.

E agora isso!!!

Não queria levantar da cama... e não  levantei... fiquei exatamente mais 2 minutos e só. Apesar de tudo, sou muito mais equilibrada do que você pensa.

Foi banho correndo, café correndo e pra clínica voando - como sempre. Não, não tão como sempre... alguma coisa ficou muito diferente em mim.

É possível sentir toda a alegria do mundo e toda a tristeza do mundo no mesmo tempo?

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Acordei no meio da noite... Eram 4 horas... daí a três horas, Noa deixaria o Brasil. O sono foi embora... tentei me concentrar no livro que estava relendo pela terceira vez ''Todos os homens são mortais''... parei quando me dei conta de ter passado duas páginas e de não lembrar nada do que recém havia lido...

Google... li alguns artigos de Noa... passei as fotos pro face e fiquei na página de Noa. Analisei cada pedacinho dela pra ver se eu conseguia arrancar mais e mais informações, pra ver se conseguia torná-lo real na minha vida...

Sinceramente, não fossem as imagens congeladas pelo meu celular... eu juro que pensaria que tudo havia passado de um sonho. Foram mais ou menos dez horas que passamos juntos... e ao mesmo tempo que parecia que tinha sido uma vida inteira... parecia nada.. parecia um momento tão fugaz, tão efêmero... que não valia nada gastar energia relembrando cada segundo, cada gesto, cada sorriso - sorriso mais maravilhoso do mundo... nos lábios e nos olhos.

Fui pra página da linda morena... e senti um ciúmes enorme do tempo que ela havia passado com ele, do que ela conhecia dele e que eu jamais saberia... voltei  pra página dele.

A capa estava diferente... meu coração bateu acelerado como nunca. Era uma das fotos da luminosidade suave do último  pôr do sol de Noa aqui no Brasil... segurei o choro.

Uma coisa eu decidi: nunca me apaixonaria, nunca amaria ninguém, mesmo. Mais uma coisa decidi: nunca choraria por um homem se eu me apaixonasse por ele e fosse um amor não correspondido...

Você pode estar vendo contradições na frase anterior... não, não há nenhuma contradição.

Eu decido um monte de coisas. Mas eu não sou ingênua a ponto de pensar que se decidi está decidido, e o Universo... ou um ser superior que nós pobres mortais... vai acatar humildemente as minhas vontades... milhares de planos já fiz, milhares de decisões já tomei... e milhares foram exatamente pelo ralo.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Será que é verdade isso de alma gêmea? Será que enquanto não encontramos nossa alma gêmea andamos por aí pela metade? Será que realmente são dois pedaços da mesma maçã, laranja... sei lá?

Digamos que sim... que há uma alma gêmea por aí procurando você e você procurando por ela. Enquanto vocês não se encontrarem não há sossego... há falta de um algo que não se consegue explicar muito bem. Um belo dia, numa esquina da vida você encontra e sua alma gêmea encontra você.

E dá um sossego enorme no coração. Não há mais necessidade de procurar... há uma paz do desejado encontrado. A alma gêmea é a exata combinação do que você precisa. Ela tem aquele jeitinho especial que só você tem.... bonito isso que acabei de escrever... é o ideal, o mundo perfeito... nada de defeito.

Será que Noa é minha cara metade? Foi com esta pergunta que adormeci....

Veja que historinha legal que encontrei no google :)

"Certa vez, um discípulo perguntou ao seu Mestre já muito velho, por que ele nunca havia se casado e o Mestre respondeu:
Eu procurava a Mulher perfeita, a minha metade e, assim, várias mulheres foram aparecendo em minha vida e as qualidades que eu buscava e que me preenchiam e satisfaziam; ora encontrava e outras horas não, quando era inteligente, não era culta, quando era sensual, não era bonita, quando era organizada, era chata e por aí afora...
Você quer me dizer que nunca encontrou a Mulher perfeita?
Encontrei, encontrei sim, mas aí foi ela quem me disse que procurava o Homem perfeito e que eu não era ele..."

sábado, 22 de junho de 2013

Chegamos ao Ribeirão da Ilha.....lugarzinho bucólico. Lá você se sente transportado para um outro mundo. O mundo da poesia, da calma, do canto dos passarinhos, das borboletas... é você de pé descalço...contato direto com a natureza.

O Ribeirão é de uma singeleza sem par... é simples, puro... não contaminado - ainda - pelo corre-corre, pela confusão, pela agitação do dia a dia da vida na cidade - só no verão.

Agora era o perfeito cenário de paz e sossego, que Noa precisava para dizer adeus à Ilha de Santa Catarina.

Estávamos com fome e, como eu havia prometido, levei-o ao lugar que oferece as melhores empadinhas do mundo... e comemos, e comemos... felizes, inebriados pelo momento que a vida estava nos dando de presente (isso também percebi depois, em retrospectiva).

Fomos caminhar na areia... o céu azul se tingia dos mais variados tons de rosa... no horizonte os últimos fiozinhos amarelos do sol.... e se fez noite.

Tínhamos de voltar e voltamos. Nenhum dos dois cogitava ficar para sempre ali naquele lugar perfeito.

Agora quando penso nisso, lembro que nossos passos em direção ao carro eram cada vez mais vagarosos...como se nunca quiséssemos chegar ao momento de dizer adeus...

Noa me deixou  no estacionamento da clínica - onde eu havia deixado meu carro. E o que ele me disse nunca mais esqueci, nunca mais alguém conseguiu dizer algo que se aproximasse do que ouvi dos lábios dele.

'Eu havia planejado passar esta minha última tarde sozinho... queria guardar na memória e congelar nas lentes de meu celular o máximo que eu pudesse deste lugar que me acolheu tão bem, que me fez tão feliz. Eu ia passar por todas as praias pra dizer adeus e queria estar sozinho, porque queria estar de corpo e alma todo inteiro em cada lugar - só pra cada um dos lugares. Não por egoísmo... ou uma loucura qualquer... mas por respeito a quem estivesse comigo... eu sei que não conseguiria me dividir - e eu tenho um respeito muito grande pelo ser humano pra ignorar quem está do meu lado.

Eu sabia que minha atenção estava na despedida... eu estou em clima de adeus... talvez eu me comovesse, talvez sentisse vontade de chorar, e se alguém estivesse comigo, eu seguraria as lágrimas... e eu não estaria sendo verdadeiro. E... bem, eu só sei ser verdadeiro.

Mas o destino, a vida, sei lá... chame do que você quiser... colocou você, doc, no meu caminho. Ontem à noite... na minha festa de despedida, você entrou na minha vida... e hoje, de novo, quando vi... aí estava você....

E a única coisa que eu queria era que você não saísse um minuto sequer do meu lado. Quis a vida que você pudesse e se dispusesse a participar da minha despedida - dos amigos... e hoje deste lugar.

Eu havia planejado passar sozinho estas minhas últimas horas por aqui... mas não saiu como planejado: não passei sozinho, passei com você ao meu lado. Agora vou dizer uma coisa e espero que você entenda bem: passar com você foi como se eu estivesse passando sozinho, como planejado...

Deixe-me explicar: é como se você fosse a outra parte de mim... como se você fosse você, mas ao mesmo tempo fosse eu também.

Eu sozinho, ou eu com você não faz a menor diferença... tudo o que eu me permito fazer quando estou sozinho me permito igualzinho quando estou com você. É uma alma em dois corpos...

Queria ser poeta... talvez eu conseguisse descrever melhor o que sinto... é como se eu tivesse rodado o mundo inteiro buscando algo que eu não sabia o que era... e quando meus olhos cruzaram com os seus tive a resposta: o que eu procurava era você. E eu encontrei...

E agora eu vou partir...

Este lugar meu deu muitos momentos alegres... fui muito feliz aqui. E este lugar me deu o pedaço de mim que faltava... Eu sabia que faltava algo, alguém pra me completar... e eu conseguia viver bem com isso... eu pensava: um dia encontro e vejo que não é tão importante e continuo sem o pedaço que me falta.

Mas o pedaço que faltava é a parte mais importante de mim... não sei mais como vou conseguir ir adiante com minha vida sem o melhor de mim... você.'


E você quer saber o que eu pensava?

Noa era bom demais para ser verdade....

domingo, 9 de junho de 2013

Você já quis parar o mundo? Não, parar para descer.... parar para que as coisas ficassem para sempre do jeito em que estão?

Naquele momento, tendo diante dos meus olhos o sorriso mais branco e mais lindo do mundo, a única coisa que eu queria era ter em mãos um controle que eu pudesse apertar a tecla pause..

Eu queria ter o poder sobre minha vida e decidir que aquele seria o momento em que eu viveria eternamente. Aquele foi o momento (até posso estender esse momento... pelos momentos que passeia com Noa) mais feliz, mais perfeito, mais sublime até, que vivi em toda a minha vida.

Não houve momentos assim antes de Noa aparecer em minha vida... e nunca mais eu consegui ter o conjunto de sensações que aquele momento me entregou de presente.

E eu vivi aquele momento totalmente inconsciente de que era o melhor presente que a vida tinha pra mim...

Por que razão essa força que controla tudo e todos não nos alerta para certas coisas? Para certas coisas boas?

Tenho um certo 'sexto, sétimo, oitavo, sentido' para as coisas ruins, para a morte, para as catástrofes... eu pressinto muitas delas... coisa ruins (estas eu preferia nem saber que existem).

Mas a vida é engraçada, ou melhor, não é nada engraçada.. está mais para desgraçada... não tem senso de humor... a vida é traiçoeira, a vida, acho, sente prazer na dor, no horripilante, no sofrimento. Não bastasse me colocar em situações duras, doídas... ela muitas vezes as antecipa - na forma de um sexto, sétimo... oitavo... nono... sentido.

Então me faz sofrer duas vezes: na antecipação e na duração... é dor pressentida e dor sentida... dor  doída... em dobro.

E os momentos bons... bom, esses ela só me deixa ter consciência total depois que passou... é sempre + ou - pela metade... em retrospectiva... já se tornando simples lembrança.

E, como eu sou uma pessoa totalmente do presente, tenho mais dor do que alegrias de presente.

E nós dois seguíamos em direção ao Ribeirão... eu, totalmente imersa no som da voz de Noa e no piano de Ludovico Einaudi.... Divenire (a minha preferida).

O Endereço: se você quer saber o que eu ouvia: Ludovico Einaudi - "Divenire" - Live @ Royal Albert Hall London

sábado, 1 de junho de 2013

Entramos no carro e a primeira coisa que Noa perguntou foi: "Enia está bom pra você?'.... Perfetto!, disse eu.

Noa com a bermuda ainda úmida da água do mar, com areia por tudo, sentou no banco de couro de seu carro de quase duzentos mil reais, como quem senta num fusquinha bem velhinho...

Completamente desprendido este homem...

Vamos pro sul, OK?

'Por que oncologia?', ele me perguntou...

Bem... tenho um relacionamento mórbido com a morte... e ao mesmo tempo um relacionamento de amor... é isso, acho...

Ele sorriu...

Perdi meus pais e irmão quando era pequena. Conheci a dor da morte muito cedo. Sei o estrago que ela causa. Oncologia é um desafio que lancei pra morte.... ela sempre vence, eu sei. Mas não sem antes enfrentar uma luta ferrenha comigo. A clínica toda sabe disso, meus amigos, conhecidos, amigos de amigos... todos sabem.

Quando alguém recebe a notícia fatídica: 'é câncer'... é pra mim que vem. E eu luto, luto como se fosse a minha própria vida em jogo.Mesmo sabendo de que no fim, ela sairá vencedora... eu fico firme... já consegui driblá-la muitas vezes... até que ela chega definitivamente... só então eu jogo a toalha. É isto: oncologia pra lutar contra a morte, ou pra empurrá-la um pouquinho mais pra lá no tempo.

É o que eu faço... empurro-a pra frente o quanto posso.

Sabe uma coisa interessante? Não sou só eu que faço tudo pra retardar a chegada da morte. Tenho pacientes muito ricos - eles têm plano de saúde, sim -, que pagam particularmente as minhas consultas... eu fico sem entender, ou melhor, eu entendo sim... é como se o dinheiro pudesse comprar um pouquinho mais de vida... como se pagando do próprio bolso tivessem mais direito à mais vida, sei lá...

Mas não há nenhuma distinção em meu atendimento: particular, plano de saúde, sus... não importa, pra mim paciente é tudo igual. Quando um chega, coloco minhas luvas de lutadora e nocauteio a morte até quase matá-la.

Mas ela não morre, né!? Então, meio inútil isso que faço - penso às vezes. O que significa prolongar a vida de uma pessoa um ano ou dois? Nada, absolutamente nada. Porque no fim desse tempo, ela inevitavelmente vai morrer.

A minha escolha é o Ribeirão da Ilha... toca pra lá... você vai comer a melhor empadinha do mundo e desistir de ir pra África só pra poder vir pro Ribeirão comer empadinha...

E ele sorriu.... meodeos que dentes brancos perfeitos!!



sexta-feira, 31 de maio de 2013


Um profundo silêncio se seguiu às minhas palavras... só quebrado pelo barulho das ondas quebrando na praia...

O vento havia parado... as nuvens eram as mesmas de quando havíamos chegado à praia... e o sol se havia movido um pouco mais na direção do quase anoitecer.

'Que bela dupla nós dois formamos'... sussurrou Noa em meu ouvido. Então me abraçou carinhosamente... encostei meu rosto no ombro dele e nos deixamos ficar assim pelo espaço de uma eternidade.

... eternidade passando.

'Agora quem escolhe a praia é você', disse ele, erguendo-se e estendendo a mão para que eu me levantasse também.

Certo! Vou levar você pra comer a melhor empadinha da ilha, falei.

E fomos para o lugar mais fofo da Ilha.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Noa saiu da água, sentou ao meu lado e me perguntou: 'quer saber por que estou indo pra África?'.

Sim, quero... e ele começou um verdadeiro monólogo, interrompido de quando em vez por 'hum.. hum... entendi', meus.

'Nasci na Áustria. Conheço mais de setenta países, vivi em quase dez diferentes. Meu pai foi Embaixador do Brasil por muito tempo. E por essa razão viajávamos muito. Conheço muitos lugares, conheci muita gente.

Sempre tivemos uma vida muito tranquila, nunca nos faltou nada, estávamos sempre cercados por pessoas atentas às nossas necessidades.

Meu pai e minha mãe, embora com todo o dinheiro, regalias, cuidados que tínhamos, sempre nos mantiveram com os pés bem no chão. Claro, nunca nos privaram de nada que o dinheiro pudesse comprar: roupas, boa comida, brinquedos - quando crianças -, melhores escolas.

Eu e meus irmãos - JC o mais velho e AC a caçula - falamos com total domínio sete línguas: português, inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e russo... nossas vidas nos permitiram isso, nossas viagens... e, acima de tudo, a sabedoria de nossos pais em nossa educação. Educação de elite? Sim tivemos isso.

Mas tivemos muito mais... tivemos amor e carinho de nossos pais, vivemos em um lar em que não faltava absolutamente nada de material e nada de mais nada. Cresci em uma família equilibrada com pais extremamente altruístas. Conheci o significado de filantropia... nem lembro quando.

Morei na África dos meus 8 aos 12 anos. Na África do Sul, claro.

E conheci o outro lado da África pelos olhos de mamãe. Ela é enfermeira... deixou de trabalhar quando AJ nasceu e se tornou mãe em tempo integral pra sempre desde então.

Quatro ou cinco vezes por ano, íamos - ela, nós, os três filhos, e o motorista de papai - para alguma cidadezinha... um vilarejo qualquer... uma tribo escolhida a dedo por mamãe. Íamos carregados de roupas, mantimentos, brinquedos, medicamentos e o amor de minha mãe pelo ser humano entregar tudo a algum responsável que pudesse distribuir entre as pessoas do lugar escolhido.

Uma verdadeira aventura para mim e meus irmãos.

Normalmente eram missionários, freiras,... pessoas que haviam abdicado de suas vidas para minimizar a dor do outro que nos recebiam no local. Nosso contato era sempre com esses voluntários... de algum órgão, instituição... Nunca tínhamos contato direto com quem recebia o que doávamos.

Passávamos por esses lugares e voltávamos para o oásis que era a nossa casa. Não ficávamos para ver a miséria, a dor, a tristeza, o sofrimento... nem a alegria de quem recebia os donativos.

Em uma dessas viagens, o carro estragou e precisamos ficar um dia até que chegasse socorro mecânico... e aí eu desci do carro.

Foi a primeira vez... e lembro que insisti com Will - nosso motorista - que andasse pelas ruas comigo - eu estava curioso... queria ver o rosto das pessoas de quem mamãe sempre falava com enorme emoção na voz.

Que rosto têm essas pessoas que não têm nada?

Ele concordou, com autorização de minha mãe, é claro.... meus irmãos ficaram com ela na pequena casa dos missionários que fariam a entrega dos 'presentes'.

Foi nesse passeio que decidi meu futuro: eu seria médico e trabalharia num lugar como aquele... eu ajudaria pessoas, estava decidido.

De astronauta... sim, eu quis ser astronauta rs... para veterinário - dos meus safáris pela África - passei à medicina de gente... de gente que desesperadamente precisa de ajuda.

E amanhã eu parto... sabe como eu vejo este mundo como vivemos? Como um enorme quebra-cabeças que alguém está tentando montar e não consegue colocar as peças certas no lugar certo. É um enormíssimo quebra-cabeças com a maioria das peças fora do lugar... há buracos, há peças espremidas demais entre outras que exercem uma força monstruosa, há peças jogadas em um canto, esperando para serem colocadas no lugar certo... e há algumas exatamente onde devem estar... são tão poucas essas.

Eu vou me colocar no lugar certo... sou um grãozinho de nada que vai tentar ajustar um pedacinho de nada deste mundo todo torto... não farei grande diferença... mas não importa o tamanho - eu seria louco de querer consertar o mundo, não é!? Vou consertar o que minhas mão conseguirem consertar... é isso'.

Pra você o mundo é um quebra-cabeças?, perguntei.... pra mim é um enorme balaio de gatos... que não conseguem sair dele e pra sobreviver um vai comendo o outro... o mundo é isto pra mim: um balaio de gatos... em que quem pode mais/ou mia mais chora menos.... sofre menos.
Canibais... comendo sua própria carne.
Embora as nuvens cobrissem o sol por boa parte do tempo, de quando em quando ele aparecia... estava quente. Um calor ameno, nada sufocante.

Tirei as sandálias e molhei os pés na água do mar. Consciente cada vez mais da presença de Noa. Inconsciente do que realmente estava acontecendo. Eu estava feliz, eu sentia paz... estava no lugar certo, na hora certa, com o cara certo. Estava tudo tão bem.

'Vou dar um mergulho... o último mergulho em mares brasileiros', falou Noa, mais de si para si do que para mim. Naquele momento, pareceu-me que ele estava só, só com ele mesmo... era como se eu não estivesse ali com ele. 'Você quer entrar na água?', perguntou ele olhando para mim.

É nesse momento que a mocinha do filme deixa escorregar o vestido até o chão. Aparece em roupas íntimas maravilhosamente perfeitas, em um corpo maravilhosamente perfeito... e em câmera lenta entra no mar.... linda... linda...

Só em sonhos... ou em filmes. Ali, naquele momento, era vida real.... Não havia mocinha linda, só eu mesma... e recatada demais para ficar diante de um homem em um primeiro encontro - que não era necessariamente um encontro - seminua... não eu.

Fiz que não com a cabeça e, com a mão fiz sinal de que o mar era todo dele. Noa entrou na água e, em um mergulho, desapareceu, para aparecer lá na frente... depois das ondas.

Um menino com um brinquedo novo... foi a imagem que ficou gravada... congelada em minha mente, e, claro, pelas lentes de meu celular.

Sentei na areia e fiquei no presente, inteira. Toda eu estava ali... com todos os sentidos à flor da pele.

O que me será cobrado depois de toda essa paz?

terça-feira, 28 de maio de 2013

O que é a força do pensamento!? O que é a vontade de uma pessoa!? O vento vem lá do outro lado do mar me trazer o som da voz de Noa.

Amo o vento... nas noites de vento sul, leste, oeste, norte... não importa da onde ele parte... eu sei, ele passa pelo continente onde Noa está, recolhe em sua alma - sim, o vento tem alma (tudo tem alma quando você está apaixonado) - o som da voz de Noa e o traz até os meus ouvidos.

Deito na rede, na área de minha casa, fecho os olhos e deixo o vento me acariciar... o corpo e a alma.

Eu ouço a voz do meu amor. Tão distante, lá do outro lado do mundo, ele está. Mas eu o ouço. E fim. Não adianta discutir comigo, argumentar, provar por a + b que estou errada, nada vai deixar de me fazer ouvir a voz dele no vento que do outro do mundo lado vem.

Depois da Joaquina, passamos pela Praia Mole. 'Quantas vezes estive aqui!', Noa exclamou. Vi o seu olhar atravessar a praia de uma ponta a outra. Vi-o olhar firmemente cada gota de água daquele marzão imenso à nossa frente... olhar pro céu, apontar as poucas nuvens de algodão que curiosas olhavam tudo aqui embaixo. Ouvi-o dizer: 'como gosto de nuvens'.

Não sei se já falei, mas sou uma apaixonada por nuvens. Alma gêmea é assim? Gosta das mesmas coisas, não gosta das mesmas coisas, sorriem ao mesmo tempo, se entristecem juntas?

'Um dia, um carro com três turistas passaram por mim na Beira-mar, pararam e me perguntaram: tu podes informar onde fica a Praia da Maria Mole?', contei pro Noa...

Ele deu uma gargalhada... a mais gostosa gargalhada. Gosto de pessoas que dão gargalhadas. Tenho uma amiga psicóloga, Juliana, que é a dona da mais gostosa e linda gargalhada que já ouvi. A-do-ro a gargalhada dela.

Acho que o Noa ganha da minha amiga... não, não. A da minha amiga ainda merece o primeiro lugar, ambos estão em primeiro lugar - gostosas gargalhadas.

'Claro que eles se enganaram', completei... 'mas quase me fiz de boba e perguntei se eles estavam procurando a praia da Maria Farinha e mandei lá pra Recife', eu completei.

E ele riu de novo... que lindo!

Essa coisa de se apaixonar é muito boa... mas definitivamente deixa a gente meio abobalhada...

No carro, tocava Kitaro....nada poderia ser melhor.

Da Mole fomos direto pra Moçambique.

Nesse momento me deu um aperto no peito. Um dia... um dia... eu ganhei de presente o amor, por um dia.

Ah! e não pense não que eu me dei conta de tudo isso na hora em que estava acontecendo. Não, claro que não. Só percebi tudo depois, em retrospectiva.

As nuvens chegaram em maior quantidade e não foram embora tão cedo.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quantas vezes eu revivi em pensamento aquele dia e início de noite!? Milhares de milhares.

Primeiro a Joaquina, que Noa conhece de cor. Enquanto caminhávamos pela areia, Noa me deu uma aula de Geografia e História. 'A praia tem 3.000 metros de extensão e sua largura varia de 8 a 70 metros. Nem sempre se chamou Joaquina; a denominação é recente, aparecendo pela primeira vez em mapas a partir de 1975, antes  era chamada de praia do Campeche.... que está logo aí adiante', falou  apontando na direção do Campeche.

O sol batia no mar que refletia o céu. Um mar prata e azul... azul da cor do mar, exatamente como tem de ser o mar. A areia macia acariciava nossos pés - adoro pés. Os pés de Noa... lindos!

'O nome Joaquina parece ter sido dado em homenagem a Dona Joaquina, uma moradora das praias do leste desta nossa bela ilha; Dona Joaquina, uma mulher bondosa, que ensinava as outras mulheres que moravam por perto a fabricar utensílios domésticos de linhas entrelaçadas, e também alimentava os pescadores que apareciam em sua casa'... continuava a voz forte e doce de Noa.

Eu flutuei; eu sei, eu sei, é impossível uma pessoa flutuar. Mas, eu juro, eu flutuei... não consigo colocar em palavras a sensação de não sentir meu corpo... eu flutuei: é o mais perto que consigo chegar da descrição daquela meia hora, daquele meio dia e pedacinho de noite.

O vento soprava muito de mansinho e só de quando em quando... "Dona Joaquina foi tragada pelo mar... ela trabalhava com suas rendas e encantada - assim como você está -' ele falou e piscou pra mim... tenho certeza de que fiquei vermelha... 'calma, calma'... repeti pra mim mesma...

'não percebeu a maré subir, e o mar levou Dona Joaquina que flutuou em suas rendas até sumir lá - ele apontou - lá naquela linha em que a Terra começa a ficar redondinha'.

'Que fofo'... pensei... só pensei.

E tiramos fotos, muitas fotos. Bendita tecnologia dos celulares que permite deixar registrado os momentos felizes, os momentos lindos.

Nenhuma de nós dois juntos... ele sozinho, eu sozinha... e o resto... todo o resto que estava ao nosso redor.

Agora, toda vez que vou à Joaca - apelido carinhoso que a praia ganhou -, fecho os olhos e revivo cada momento daquele dia. Ouço no vento a voz de Noa.

A voz de Noa.... Se eu, de olhos fechados, ouvir as bilhões de vozes que existem no mundo, você sabe que eu vou reconhecer exatamente a dele... você sabe, não sabe?

Eu sei...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Noa Feminino Eau de Toilette, da Cacharel: floral aromático, com notas de almíscar branco, peônia branca, café e coentro.... Noa, meu perfume preferido.... maravilhoso!

Simples como a vida deveria ser, pé no chão, cabelos ao vento... sardas no nariz.

Marcante como cada pessoa deveria ser, personalidade, inteligência, beleza - por dentro e por fora.

Discreto como cada pessoa deveria ser, sempre um mistério envolvente  no ar.

Suave como a vida de cada um deveria ser, delicada como a brisa no amanhecer.

Requintado...

E foi assim que Number One mudou pra Noa - dá pra entender porque resolvi chamá-lo assim, não dá? N .... O .... Amor! Amor, que eu havia jurado nunca querer pra mim.

Meu perfume preferido.... e fica mais agradável com o passar do tempo :)

E Noa foi tão querido... O que posso esperar com o passar do tempo?

Que tempo, doc? Vocês não têm tempo nenhum :(

Meodeos, por que você tem sempre que ser tão racional? Pelo amor de Deus, haja como uma pessoa normal... pelo menos uma vez na vida.

Pois é, foi o dia mais feliz de minha vida, mas alguns pensamentos insistiram em me atormentar (juro, eu fiz de tudo pra bem longe os mandar).

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Destino colocou Number One em minha vida e eu na vida de Number One.

Almoçamos juntos - o diretor, Number One e eu.

O diretor tinha de estar em seu consultório à tarde; eu... eu estava de sobreaviso; Number One havia decidido que seria sua tarde de despedida da Ilha.

Quando estou de sobreaviso fico pelo centro. Aproveito pra visitar meus avós, minha tia, amigos, andar por aí... ou passear com Jorge. Nunca vou para casa.

E nesse dia, depois do almoço combinado com titia - que desmarquei, lembra? -, íamos visitar uma amiga. Claro, visita desmarcada também.

Tudo culpa do destino.

Passei a tarde mais linda de toda a minha vida. Não, não fiz nada do que já não havia feito antes, nenhuma novidade... a não ser pela companhia. Que doce companhia.

Number One, depois dessas maravilhosas horas que me fez passar, transformou-se em Noa... meu querido, lindo, sweet Noa...

Não, não sou nada romântica... mas não dizem que o amor transforma a gente?


sosweet12.blogspot.com

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Quando duas pessoas nascem pra ficar juntas, elas ficarão juntas... é o destino.

Perfeito, adoro essa frases feitas. Frases feitas pra levantar o moral da gente.

O que é o destino? De acordo com a Wikipédia, "o Destino é geralmente concebido como uma sucessão inevitável de acontecimentos relacionada a uma possível ordem cósmica. Portanto, segundo essa concepção, o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, da qual nada que existe pode escapar".... e o grifo não é meu, não... é da própria Wiki :)

Ordem cósmica.... que tipo de 'ordem' é essa? O que o cosmos tem a ver com a minha vida? Sou eu mesma que alimento minha vida. Na hora em que eu decidir parar de comer, por exemplo, a minha vida vai acabar. Devagarinho.... leva alguns dias pro fim dela chegar. Mas, é inevitável: se eu não comer, não alimentar meu corpo, ele morre. Então, o que o cosmo tem a ver com isso? Como pode o cosmo interferir na minha vontade de comer para eu continuar vivendo?

Provavelmente, minha vida é mais que meu corpo... da minha própria vontade... só assim consigo pensar que não tenho controle sobre minha vida. Há algo mais, que não tenho a mínima ideia do que seja, que me segura viva; que me faz seguir por determinado caminho e evitar outro; que traz até mim o que tem de chegar até mim... Abre parêntese: veja que usei a expressão 'tem de' o que indica obrigatoriedade, ou seja, obrigatoriamente o que tem de chegar a mim, chegará... não conseguirá escapar, nem pela tangente... fecha parêntese.

Que poder tem esse algo mais no cosmos que consegue manipular minha vida? Todas as vidas? Se você pensar bem, inclusive a sua!? Que poder! Qual o tamanho dessa força? Daí é um daqueles momentos em que eu penso que só pode ter um Deus, sim. Um Deus que eu não consigo entender.
Também não tento mais entender, gastei todas as minhas forças. Agora, se está 'destinado' que eu O entenda, Ele vai se fazer entender... ou jamais O entenderei. Ele próprio vai me empurrar na sua própria direção.

O Destino conduziu duas vidas... uma na direção da outra, num encontro tão lindo, tão suave, que me fez amar o Destino (agora o grifo é meu).

Mas não vou amá-lo sempre, nem pra sempre.




quinta-feira, 16 de maio de 2013

12:22 ou 12:23 ou 12:24... não importa.

Entrei no salão e um frio percorreu minha espinha. De bermudas cinza claro, com uma lista preta do lado... uma camiseta num tem de cinza mais escuro e sandálias Havainas de tiras pretas... Number One.

Num primeiro momento não me viu, estava meio de lado para a porta, conversava com nosso amado diretor.

Minha primeira reação foi sair de mansinho sem fazer barulho... Tarde demais... nosso amado diretor me viu e exclamou: 'doc!'

E aí Number One virou-se, me viu e sorriu.

Acho que eu fiquei meio abobalhada... não consegui sair do lugar; e os dois vieram em minha direção.

O pouco de mim que se mantinha sóbria repetia baixinho: 'está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem'. Claro estava tudo bem... bem demais, acho.

Ganhei o abraço afetuoso que sempre ganho do nosso 'chefe'.... e um aperto de mão e um sorriso que nunca mais vou esquecer do lindo dono das Havaianas.

O diretor ia fazer as apresentações, mas N. O. adiantou-se e falou: 'a gente se conheceu ontem na festa'.

'Ele lembrou... sorri pra mim mesma :)

Aí tudo aconteceu muito rápido. Os dois estavam saindo para almoçar juntos e fui convidada. Aceitei, que não sou boba nem nada. Um breve telefonema, desmarquei meu almoço com minha tia e lá fomos nós.

Uma história de felicidade e de amor, de um grande e lindo amor, havia nascido na noite anterior, agora estava qual um bebê descobrindo seus primeiros momentos no mundo. Como é lindo e como aquece minha alma quando lembro de cada minuto daquela tarde e noite que passamos juntos - Number One e eu...

O 'chefe' tinha outros compromissos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O dia seguinte da festa de despedida de Number One:

5 horas... acordei, virei pra um lado, pra outro... depois pra outro. Tentei me asfixiar com o travesseiro pra ver se o sono voltava, nada... perdi o sono, definitivamente.

5:15 - levantei, coloquei moleton e tênis.

5:25 - estava correndo na praia.

O ar frio, a areia molhada, o barulho do mar... lá longe um fiozinho do sol começava a dar as caras.

6:25 - entrei no mar de roupa e tudo, exausta.

Estou correndo do quê?

Chorei, chorei, chorei... fazia tempo que eu não chorava assim. Controlo minhas lágrimas, elas só escorrem pelo meu rosto quando deixo, ou quando não aguento mais. Definitivamente: não aguento mais.

7:15 - Suco de laranja e ovo molinho bem quentinho.

7:25 - Carro em disparada - já disse que corro... corro mesmo - mas respeito o limite de velocidade: estou sempre no limite.

7:50 - Túnel .... acidente (nada grave soube depois pelo noticiário só mais um congestionamento e algumas pernas e braços quebrados) - vou chegar atrasada à clínica.

8:45 - Atendo com atraso meu primeiro paciente.

11:50 - Atendo meu último paciente... com atraso também.

Mas ninguém reclamou. Ainda bem.

12:15 - Entro no elevador - cheiro de festa.

12:17 - Hall de entrada - cheiro de festa.

Não resisti... fui em direção do salão. Segui o cheiro de festa, que ficava cada vez mais forte e me chamava com seu sabor adocicado.

Segui a direção errada; era para eu sair pela porta da frente, sem olhar pra trás, sem me importar com o cheiro de festa, sem me importar de que Number One passou por alguns segundos por minha vida.

Mas, não, eu com a minha idiota teimosia... o que que eu estava pensando? Que iria encontrá-lo no salão?

Definitivamente a gente não tem controle de nada o que acontece na vida da gente. E eu disse: a vi-da é da gen-te... ou não é?

12:22 - ??

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Gosto de arte. Tenho uma admiração imensa pela criação: de um quadro, uma escultura... meu escultor preferido: Rodin.

Um bloco de pedra, de granito, da mármore... um pouco de gesso... inspiração e de dentro sai uma maravilha. Fico me perguntando em que momento o escultor vê sua obra pronta?  Antes de ela nascer em suas mãos... ou ele se deixa surpreender com o produto final como nós - os admiradores? Deve ser simplesmente fantátisco esculpir, dar forma ao informe.

O tempo foi passando e eu fui me aperfeiçoando na arte de esquecer.

Mas quando visito museus, a lembrança de papai é tão forte que não consigo deixá-lo do lado de fora.... ele me acompanha, segue ao meu lado e ouço sua voz me explicando tudinho, tudinho.

Será que ainda tenho alguma esperança? Não, claro que não... levou tempo, mas eu consegui me desgarrar de qualquer esperança.

Cultivei o desapego... li em algum lugar que há situações em nossas vidas em que 'somos obrigados a perder cascas' - como cebola rs... As cascas servem de proteção enquanto é necessário; quando você precisa usar a cebola a casca não serve pra nada, tem de jogar fora.

Acho que é mais ou menos assim na nossa vida: temos várias camadas de casca... conforme a situação tiramos e jogamos fora uma ou duas... até chegarmos à essência.

Aprendi a cultivar o desapego pra tornar a vida vivível... não que eu tenha gostado da experiência, mas aprendi e me acostumei... deixo pra trás o que não preciso.

Minimalista e desapegada.... tudo a ver. Daí, viver é bem simples.

domingo, 12 de maio de 2013

Quem não tem muito pra perder não perde muito.... verdade.

E foi assim que fui crescendo. Sendo uma perfeita minimalista.... sem detalhes, desprovida de excessos.... só tenho 100% de coisa de que realmente preciso e uso. Não tenho restos.... de nada.

Objetos em minha casa só os essenciais. Livros? Nenhum. Compro, ganho, leio e passo pra frente. Se tenho vontade de ler de novo, vou atrás de outro exemplar. Tenho carteirinha da Biblioteca Pública, da biblioteca da clínica, faço parte de um círculo de livros (há centeans de anos). O único livro que não consigo passar pra frente é a Bíblia. Dizem que é a história de Deus... vou ler até conseguir entender... já li e reli dezenas de vezes... e continuo não entendendo. Mas... um dia quem sabe?

Quando me deparo com algo de que gosto, penso: Preciso? Onde vou guardar? Se vou guardar... pra que comprar, né? Só compro se realmente vou usar.... e uso até gastar, ou enjoar... daí me desfaço.

Às vezes, até me apaixono por alguma coisa... mas aí aparece uma perguntinha: 'pra quê?'... e pronto desapaixono na hora.

Então, você entendeu que tenho só o essencial. Só numa coisa vou além do essencial: arte!

"A gente não quer só comida – a gente quer comida, diversão e arte", já diziam os Titãs, e eu concordo com eles em relação à arte. Comida: só o essencial; diversão: só o essencial - acho que até um pouquinho menos... o que falta em diversão compenso com arte.

O meu amor por arte herdei do meu pai.

Além do minimalismo, promovi constante desapego. Mas isso é pra outra hora... ;)
"Viraram três estrelinhas", quanta maldade há nestas três palavras juntas formando uma frase de consolo.

Quem em sã consciência quer que alguém querido, ou apenas próximo, de carne e osso vire uma estrela? Ninguém.

Lembro-me de noites e noites eu ficar olhando pro céu tentando adivinhar quais eram as três estrelinhas em que papai, mamãe e meu irmão tinham se transformado. Às vezes decidia por três quaisquer e esperava que fizessem um sinal pra mim, acenando ... com um brilho mais forte... que eu havia acertado.

Não preciso dizer que passei horas e horas tentando encontrá-los no céu. E a tortura de deitar em minha cama, cobrir a cabeça com o travesseiro, tentando sufocar a dor por me sentir tão incompetente em encontrá-los.... tão competente em não encontrá-los... quanta dor, raiva, ódio... de mim, das estrelas, de Deus (ou qualquer algo que tivesse me presenteado com uma família e, depois, tirado.. tudo de uma vez... e não me deixar sequer distingui-los do meio de tantas estrelas... todas iguais). Odiei a vida.

Por um bom tempo...chorei. 'Quem sabe com minhas lágrimas comovo alguém!?'

Nada... nem ninguém me atendeu. Até o momento em que acho que me acostumei.

Eu me acostumei a não ter esperança. Depois fui entendendo, deixando de ter raiva... acreditando, desacreditando... vivendo, como uma pessoa normal.

Assim é que é feita a vida: a gente nasce e a gente morre.

Não adiante reclamar, nem espernear; já é determinado... predeterminado. E quando entendi isso, mais ainda achei melhor as coisas terem acontecido como aconteceram. Um pouquinho diferente, e a dor seria de um dos três... e eu não queria isso pra nenhum deles.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Não lembro bem... não me lembro bem de quase nada daquele setembro, outubro, novembro.... e dos meses que se seguiram.

Tudo é muito nebuloso na minha mente. Agora que entendo um pouquinho de medicina, posso dizer que o que aconteceu naquela época e durou por um bom tempinho é que meu corpo, minha mente, alma...sei lá mais o que que compõe um ser humano anestesiaram-se.

E acho que só que porque eu estava anestesiada eu sobrevivi. Se eu estivesse completamente 'acordada', não sobreviveria.... parava de respirar - a dor é insuportável.

Uma hora a pessoa está lá... e depois não está mais. Adormeci tendo um pai, uma mãe, um irmão... quando acordei eles não estavam mais.... não só não estavam lá... não existiam mais.

Viraram três estrelinhas no céu (e eu quase acreditei... ou, por um tempo, acreditei).

De uma coisa que lembro é de eu sair procurá-los nos lugares que costumávamos ir. 'Eles estão lá... eles estão lá... eles estão lá' ... eu pensava com toda a força, com toda fé que uma criança de sete anos pode ter. É claro, eles não estavam.

Foi aí que eu aprendi que não é a fé que move montanhas...

Foi aí que comecei a conversar com Deus.... lembro que eu falava pra Ele que faria qualquer coisa que Ele quisesse se me devolvesse a minha família. Não preciso dizer que Ele não me devolveu.

E foi aí que eu comecei a duvidar da existência dEle.... um paradoxo... porque, ao mesmo tempo, eu acreditava do fundo da minha alma que Ele só podia existir sim...

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Pois, pois... a vida faz o que quer de nós, faz o que quer com o que pretensamente é nossa vida. Cedo aprendi isso... e acho que aprendi muito bem... acho... ou acho que continuo aprendendo... sei lá. Isso de tentar entender a vida não é fácil.

Talvez viver seja isto: aprender a aceitar a vida como ela vem. E aqueles mais maleáveis, aqueles que têm mais facilidade de se adaptar vivem mais tempo - se vivem melhor, não sei. Acho que há alguma coisa de correto no que Darwin pregou. A lei do mais forte.

Nosso corpo é mais de 70% água... creio que sei a razão disso. Somos mais água do que qualquer outra coisa... porque assim podemos tomar a forma que a vida se apresenta diariamente. Não é assim com a água? Ela não toma a forma do recipiente que a contém?

O dia amanheceu claro, nenhuma nuvem no céu... era setembro, 16 de setembro, mais precisamente.

Eu havia passado uma semana de cama. Uma gripe tinha me derrubado. Na noite de 15 de setembro, meus pais e meu irmão foram a um jantar na casa de uma amiga de mamãe. Como eu estava ruinzinha, preferiram que eu ficasse em casa, na cama. Prometeram que trariam um pedaço da melhor torta de damasco do mundo que a amiga de mamãe sempre fazia nesses jantares.

Fiquei. Tia Tânia, irmã de meu pai, ficou me fazendo companhia.

Como aconteceu? Um motorista de caminhão perdeu o controle na SC 401, invadiu a pista contrária, e os três morreram instantaneamente. É só isso que sei. Não, também sei que nunca mais voltaram pra casa.

Primeiro uma escuridão... depois uma dor impossível de descrever... em seguida amputações... mais amputações... mais amputações... às quais sobrevivi.

Depois você se acostuma

... e eu me acostumei. Agora penso que foi melhor assim. Ficou a mais forte. Tenho certeza de que nenhum dos três iria conseguir suportar tão bem como eu suportei.

Se eu pudesse escolher mudar aquela noite de 15 de setembro? Não... eu não mudaria nadinha.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Imagine uma família feliz... onde tudo vai bem. Um pai, uma mãe e dois filhos - um menino e uma menina.

Um pai - psicólogo bem-sucedido, amoroso com seus filhos, com sua esposa, responsável. Um homem forte que não se deixava abater por qualquer dificuldade. Um homem que fazia tudo o que estava ao seu alcance para o bem de sua família.

O meu pai... como era bom quando ele estava por perto. Como era bom tê-lo como pai.

Uma mãe - enfermeira, que decidira deixar de trabalhar quando os filhos nasceram porque queria criar seus filhos. Queria aproveitar todos os momentos possíveis, ensiná-los a agir corretamente, a ser éticos, queria formar personalidades saudáveis, pessoas felizes. Queria estar por perto sempre que eles precisassem.

A minha mãe... como era bom quando ela estava por perto. Como era bom tê-la como mãe.

Um garoto - de dez anos, que adorava jogar futebol, pegar onda, judô, andar de bicicleta, andar de patins... também gostava um pouquinho de estudar - só um pouquinho (ele dizia)... o suficiente pra não ficar de recuperação... mas mamãe se encarregava de fazê-lo aprender de verdade.

O meu irmão... como era bom quando ele estava por perto. Como era bom saber que ele era meu irmão.

Eu - uma garotinha de sete anos, que adorava tudo o que meu pai fazia, tudo o que minha mãe fazia e tudo o que meu irmão fazia (hoje fico pensando se eu não tinha personalidade naquela época).

O que mais me lembro daquela época, ou melhor, o que só lembro daquela época é que minha vida só era boa quando estava junto com um dos três, pelo menos.

É, eu tivera a sorte de nascer em uma família feliz... equilibrada... amorosa. Foi com essa família que passei os primeiros sete anos de minha vida. E, acredito, que era para eu passar mais outros sete, mais sete e mais sete anos, pelo menos, com essa família. A minha família.

Mas não aconteceu assim. Cedo eu aprendi que a vida toma os caminhos que quer, sem consultar os verdadeiros interessados - nós.
Eu acho que a vida poderia ser maravilhosa... se nela só existisse o Jorge e eu.

O Jorge é o único que me vê quando quero que ninguém me veja... é o único que me entende, que sabe quem realmente sou... O Jorge sou eu masculino.

O Jorge...  por que não consigo esquecê-lo? E por que não consigo amá-lo? Será que o amo e o que acontece mesmo é que não consigo admitir?

Há dias em que me odeio. Por que tenho de ser tão complicada? Por que não consigo simplesmente ser como as pessoas que levam a vida na boa... amam e são amadas... ficam juntas... abraçam-se e quando não conseguem mais abraçar-se simplesmente se separam e seguem com sua própria vida?

Por que não consigo simplificar as coisas? Seria... ou é... tudo tão simples: o Jorge me ama e ponto. O Jorge é maravilhoso e ponto. Qualquer mulher deste mundo daria tudo pra tê-lo ao lado... e eu fico aqui esnobando... e ponto.

Um dia ele vai deixar de me amar... pelo menos de me amar tanto assim - como ele me ama - e aí a vida vai ficar vazia... então, digo pra mim mesma, 'faça alguma coisa'... 'ame o Jorge e ponto'.

O Jorge sabe que escrevo... só não sabe que escrevo publicamente... o nome dele na verdade nem é Jorge... jamais iria expor quem gosta tanto de mim.

Jorge, se você um dia ler este texto e se identificar nele, só quero que saiba que não esnobo você... eu daria a minha vida só pra amar você...

Mas eu não consigo :(

Será que isso tem a ver com quando eu tinha sete anos?

domingo, 28 de abril de 2013

Apertei a mão de Number One, olhei nos olhos dele, trocamos algumas palavras, ouvi-o responder a todas as perguntas que eram feitas... comi qualquer coisa que me foi oferecida, bebi refrigerante... perambulei pelo salão, cumprimentei uns, conversei com outros.. e decidi ir embora.

Saí à francesa. Com uma sensação de que alguma coisa tinha sido perdida, de que eu estava deixando algo para trás, sensação de um dever não cumprido... sei lá. Só sei que saí de lá com uma sensação estranha.

Saí triste...

Quando eu tinha sete anos, eu vivia feliz com meus pais e meu irmão, Thiago. Nós formávamos um típica família de comercial de margarina. Éramos felizes.

Meu pai, um homem de 1,85 era a pessoa mais bacana que alguém pode ter por perto. Sua sensibilidade tornava-o um ser especial. Pra mim, ele era um super-herói - desses que a gente vê em filmes salvando as pessoas.

Ele sempre me salvava. De uma onda forte que me derrubava na praia. Do cachorro do vizinho, que às vezes fugia pelo portão e com suas patas enormes quase me jogava ao chão - não fosse meu pai pegar-me rapidamente no colo, fazer uma cara bem feia e gritar pro cachorro sumir da nossa frente. Dos pesadelos que me deixavam completamente molhada - isso mais ou menos até meus cinco anos - depois eram só pesadelos... secos. Dos fantasmas que rondavam nossa casa - na minha fértil imaginação.

Eu não gostava de dormir no escuro, ele sempre deixava uma luzinha  acesa até eu adormecer.
Eu não gostava de ervilhas, então ele sempre lembrava de pedir cachorro-quente sem ervilhas pra mim.
Eu adorava brigadeiro, ele sempre os fazia pra  mim.

Eu gostava de ouvir história, e ele lia todas as noites.

As mil e uma noites (eu me imagina sendo Sherazade, uma jovem de beleza e inteligência extraordinárias e, como ela, enfrentaria o poder do grande Sultão Shariman e conquistaria seu coração); Moby Dick (um livro com capítulos enormes e outros menores, exatamente como são as ondas do mar); O pequeno príncipe (Le Petit Prince, este meu pai leu em fracês/traduzindo pedacinho por pedacinho... acho que foi aí que surgiu meu amor por línguas estrangeiras); Polyanna (juro que tentei viver o 'jogo do contente'.... tive uns 5 % de sucesso em cada tentativa); O menino do dedo verde (mil vezes toquei coisinhas para ver se surgiriam plantinhas.... não peciso dizer que isso nunca aconteceu); Monteiro Lobato (fui Narizinho, ganhei até uma boneca de pano, a minha Emília, tinha até meu próprio pomar na casa do vovô).

E ele lia, lia e lia....

e eu, deslumbrada, ouvia e pensava: 'como é que pode ter tanta coisa maravilhosa nas páginas dos livros?'.

E eu acreditava que a relidade ia se apresentar sempre assim (como nos livros que meu  pai leu pra mim)....maravilhosa.
Tá, mas voltando pra festa... vou deixar um hiato de tempo pra explicar minha relação com isso que os seres humanos chamam de amor, certo?

Ainda tocava 'Somebody that I used to know', de Gotye Feat, quando Betriz  e eu nos aproximamos de Number One. O meu coração batia acelerado, eu sentia um calor subindo pro rosto... 'iii - pensei - vou ficar vermelha'.

E Beatriz nos apresentou. E ponto.

Ele educadamente apertou minha mão... um aperto de mão firme (você sabe.. diferente daqueles apertos de mão que não parecem um aperto, a pessoa apenas segura sua mão, como se apenas estivesse cumprindo uma obrigação social - sem interação nenhuma). O aperto de mão dele é de quem demonstra segurança, de alguém que, embora cercado de muitas outras pessoas, no momento da apresentação está só com o apresentado... só com você.

Uma meia dúzia de palavras, as de praxe. E ponto.

Logo apareceu outra pessoa - Dra. Carla - interessadíssima em saber tudo sobre a partida para a África, e Number One voltou seus olhos, seu corpo, sua atenção para ela.

Depois fiquei sabendo que eram amigos de longa data; que ela acabara de chegar da Europa (onde fora fazer doutorado); que fazia muito tempo que não conversavam face to face...etc., etc.

Claro... ele foi corretíssimo... eu estava apenas sendo apresentada a ele... ou ele a mim - tanto faz. E várias outras pessoas também foram e seriam apresentadas, apenas.

Meu Deus como fiquei decepcionada. Eu esperava que ele largasse a festa e só conversasse comigo... eu tinha tanto pra falar - afinal havia passado um bocado de tempo pesquisando sobre ele no Google. Queria dizer como achava incrível seu amor pela dor das crianças, dos pais, dos sofredores africanos, seu amor por um povo inteiro; queria falar sobre seus artigos, suas pesquisas...

Mas não falei nada. Claro que Beatriz e eu não nos afastamos, ficamos ouvindo-o conversar com Carla e nos limitamos a balançar a cabeça em aprovação, a arregalar os olhos quando ele mencionava algo atroz sobre o sofrido continente... ficamos as duas aí... fazendo meneios e as caretas tradicionais de quem está ouvindo atentamente.

A atenção dele estava voltada à Carla, mas é claro que seus olhos passavam por nós duas (Beatriz e eu) às vezes, deixando-nos à vontade para ficar na rodinha de pessoas que pouco a pouco aumentava.

Mas houve um cruzar de olhos... um único cruzar de olhos que penetrou profundamente no meu coração (e no dele também - depois ele me disse).

Sabe!? Eu não acredito em flecha de Cupido... mas no momento desse olhar alguma coisa aconteceu... talvez eu tenha de rever minhas crenças nesse tal de Cupido.

Ah! eu não percebi na hora a flechada.... e ah! também fiquei aliviadíssima de me livrar da sensação de que algo iria acontecer...(que, na verdade aconteceu, mas eu só percebi um bom tempo depois).



sábado, 27 de abril de 2013

E se eu nunca conseguir amar Jorge?

Você deve estar se perguntando, porque me preocupo com isso. Na verdade não é uma preocupação. Vou explicar... tentar explicar.

As pessoas não foram feitas pra ficar sozinhas. Elas se apaixonam e querem ficar perto, querem ficar juntas. Tem todo um romantismo por detrás disso, eu sei... o coração acelerado, as mãos que tremem, a voz que falta, as ideias que saem pela boca de forma atrapalhada, os olhos que falam... e eu poderia ficar aqui enumerando mil consequências de se estar apaixonado.

Mas sou pouco romântica... nada romântica. As pessoas se apaixonam para dar continuidade à vida. Se ninguém mais se apaixonasse, as pessoas não faria sexo, não gerariam bebês, e ninguém, mais nasceria... e seria o fim.

E a natureza, ou seja lá o que for que comanda este Universo, não quer que cheguemos ao fim. Então resolveu achar um jeitinho de as pessoas sentirem-se atraídas umas pelas outras, fazerem sexo, gerarem bebês e multiplicarem a si próprias.

Você sabia que há fatores que fazem as pessoas sentirem-se atraídas umas pelas outras? Coisas como odores, sons... dependendo da pessoa... atrai você e, pimba, você se apaixona. E aí você cerca esse fato de rosas vermelhas, músicas românticas, pequenas tolas surpresinhas... só porque você está apaixonad@. É a natureza fazendo seu próprio papel... só.

Cara, isso aconteceu só pra você se dispor a procriar... pode romantizar.... mas, no fundo, no fundo... você foi programad@ pra fazer bebês.

Há uma química sexual... instintos básicos... o bom parceiro é aquele que cheira bem.

E o Jorge cheira bem...além de tudo aquilo de lindo que já contei pra você.

Você está acompanhando meu dilema?

Ele é tudo.... só que eu não quero nada, nunca vou me apaixonar, é decisão tomada. Burrice? Sim, sim... eu sei...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Além de tudo o que Jorge é e já contei pra você, há outras qualidades.

Sabe uma pessoa honesta? Pois é... o Jorge é. Ele é completamente verdadeiro em seus atos e declarações. Ele é honesto com ele mesmo e com os outros... e eu acho que isso confere a ele uma serenidade sem tamanho.... que me faz tão bem.

Quando ele descobriu que estava apaixonado por mim? Foi em um trabalho de Fotojornalismo I. Em dupla, tínhamos de fazer uma pesquisa sobre Elementos da história natural e um Laboratório fotográfico de técnica e prática com luz natural. Formamos uma dupla da pesada...

Nós dois somos fissurados por história... história de qualquer coisa, conhecer o passado nos fascina; e fotografia? Bem já falei é um de nossos hobby.

Na época ele já morava em Santo Antonio de Lisboa, havia se mudado da Beira Mar Norte onde morava com seus pais desde sempre... e havia comprado uma casinha maravilhosa no alto do morro mais alto de Santo Antonio.

A vista espetacular... em qualquer momento do dia. Lembro que fizemos uma montanha de fotos; foram três dias forografando nas mais diversas horas do dia... só parávamos pra comer a melhor comida da ilha, feita pela D. Diná.

E foi aí me vendo comer, me vendo apaixonada pela fotografia, me percebendo fissurada por história que ele se apaixonou.

Este foi nosso primeiro trabalho juntos... e depois todos os outros do semestre.

Ele se apaixonou e me falou... mas eu não me apaixonei. Ele é um ser apaixonável, totalmente apaixonável, tem todas as qualidades pra me fazer feliz... só não consigo amá-lo. Não do jeito que uma mulher ama um homem.

Lembro-me de que na época comecei a me afastar devagarinho... o que ele não deixou de perceber.

Claro, ele é homem, um homem com H maiúsculo... foi corajoso e me disse: 'sei, você não está apaixonada por mim... tudo bem... se você ao menos gosta da minha companhia... serei seu amigo... o lance do amor eu resolvo'.

'Não quero perder de conviver com você só porque estou apaixonado por você.'

E foi assim que nos tornamos os melhores amigos do mundo...E ele continua apaixonado, sabe que eu não o amo... mas somos dois adultos que se fazem bem..

E no meio de tanto mal, você ter o privilégio de estar com alguém que te faz bem, no fim é o que conta... por isso é que em qualquer situação de perigo, de dor, de tristeza, de insegurança, de stress, de vontade de sumir, de falta de chão,  é o Jorge que quero do meu lado... e sou eu quem ele quer do lado.

O único problema: acho que ele não perde a esperança de eu vir a amá-lo...

E se eu nunca conseguir amá-lo?
 
 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Como você imagina uma pessoa pra ficar do seu lado pra sempre?

Não importa que tipo de qualidades você espera que essa pessoa tenha... algumas delas, ou todas, com certeza o Jorge tem.

Você quer uma pessoa inteligente.... o Jorge é.... ele lê nas linhas e nas entrelinhas.

Você quer uma pessoa amável... o Jorge é... ele faz pelos outros o que precisam sem esperar nada em troca.

Você quer uma pessoa bem-humorada... o Jorge é...

Você sabia que a palavra 'humor' vem de humus, que em grego significa líquido, ou seja, uma referência ao estado de espírito e saúde. Bem-humorado é a pessoa que está em harmonia com seus humores.... não se importa com rumores...

Já li que quem é inteligente é bem-humorado e que que é bem-humorado é inteligente.... não sei se acredito muito nisso não... conheço pessoas inteligentes muito mal-humoradas e vice-versa.

Mas o Jorge é as duas coisas... inteligentíssimo e bem-humoradíssimo... com ele tudo o que é bom é no superlativo.

Você quer um pessoa bonita... o Jorge é... lindo, lindo, lindo... lindíssimo!

Engraçado, mas eu passei o resto da festa pensando no Jorge, pensando em como ele me faria bem se estivesse comigo, como me daria segurança. É, definitivamente, o Jorge é o meu porto seguro...

E naquela festa eu perdi o chão... minha vida virou de ponta cabeça... toda certeza do que eu queria pra minha vida acabou - claro que eu só percebi tudo isso um tempo depois da festa ter acabado... um bom tempo depois...

Continua....

segunda-feira, 22 de abril de 2013

De repente eu vi Number One.... Paralisei. Os olhos ficaram fixos nele. Foi olho no olho por um segundo apenas... mas foi um olhar que penetrou a minha alma - claro que só percebi o que acontecera naquele momento muito tempo depois. Não tive consciência ali naquele exato momento da importância que esse homem faria pra minha vida.... do que ele traria pra minha vida. Não soube naquele cruzar de olhos, evidentemente, que estava diante de alguém que um dia amaria como nunca amei ninguém.... nem amarei. Um amor único na vida...

Soube de tudo isso um tempo depois.

Sei muito pouco sobre esse amor que une duas almas. Esse amor que não há força que derrube, que não há tempo que acabe, que não há distância que separe. Esse amor que se manterá amor em qualquer mundo deste nosso Universo. Esse amor que é um elo que jamais poderá ser desconectado. Quando Deus (e agora estou no meu momento de acreditar que há algo bem maior que chamo de Deus) determina que duas almas são uma para outra, elas são... serão pra toda a eternidade. Esse amor que mantém os pensamentos ligados pra sempre.

Acho que esse tipo de amor foi feito em outra dimensão... acho que foi uma alma só, um corpo só... e que foram, tanto uma quanto o outro, divididos e só se tornarão completos quando juntos... juntos corpo e alma.

Sei muito pouco sobre isso porque decidi há muito tempo que jamais iria deixar um amor assim se apossar de mim. Tenho domínio próprio, controle total... só entra na minha cabeça e coração o que eu deixo entrar (pensamentos, sentimentos)... e se algo do tipo me invade sem que eu perceba, expulso a pontapés e safanões.

Ele também sentiu o olhar... e tudo o que sentiu ele demorou muito pra me contar.

Beatriz pegou na  minha mão e disse: 'Vamos lá... vou apresentar o dono da festa pra você'.

E meu coração parou... e depois acelerou como um louco. 'Que coisa de louco', pensei eu...'Cadê meu equilíbrio?'

Estranhamente, no resto da noite, só consegui pensar em Jorge. Só consegui querer que ele estivesse do meu lado.

 

domingo, 21 de abril de 2013

Estava tocando 'Somebody that I used to know', de Gotye Feat. Kimbra. Adoro essa música... a melodia, a voz dos dois... e a letra. Que letra real, cotidiana.

Acho que ela resume a história de muita gente... Pense em um relacionamento qualquer... no início você ouve e você diz 'sou a pessoa mais feliz do mundo'... 'agora eu poderia morrer'... 'você é a pessoa certa pra mim'... etc., etc., etc., ad infinitum.

Mas nada é infinito... nem esse amor - que você julgava ser pra toda a vida. O que era amor... acho que não era bem amor... era outra coisa. Uma coisa boa, temos de admitir, mas não era Amor, com letra maiúscula.

... não sei, acho que às vezes idealizo o amor.

Mas, voltando pra aquilo que achávamos ser amor, quando percebemos não ser amor, pensamos: talvez a gente possa ser amigos... talvez.

Alguns conseguem... mas quando encontram um novo amor... aí as coisas mudam, esse novo amor tem ciúmes, ou dedicamos todo nosso tempo, energia, atenção pra esse novo amor - o que particularmente acho que é certo. E aquela amizade vai desaparecendo, desaparecendo, como o sol desaparece no fim de tarde... devagarinho, devagarinho... transformando o dia em noite.

É por essa, dentre outras razões, que eu jamais vou amar alguém. Tenho motivos suficientes, dores suficientes pra não me apegar de verdade a ninguém. Estou inteira com todos... estou inteira com ninguém.

Mas, voltando pro salão. Não sabia se procurava primeiro a morena linda ou Number One... meus olhos pulavam de pessoa em pessoa, iam de norte a sul... de leste a oeste... deram até algumas escapadelas pro jardim. Não viram nem um nem outro.

Parei pra conversar um pouquinho com minha colega e amiga Beatriz. Beatriz é ortopedista, seu consultório fica no andar de cima ao meu, temos os mesmos horários de consultório, praticamente fazemos plantões nos mesmos dias e horários, frequentamos a mesma academia... e temos... fazemos um monte de coisas igual e ao mesmo tempo.

Mas há entre nós um diferença: ela crê 100% de seu tempo em Deus... eu... bem, eu nem sei se creio ou não creio. Como já disse: às vezes Ele parece tão real que é possível tocá-lo... noutras simplesmente é inadimissível que Ele exista - dado o mundo que aí está.

E fiquei aí conversando com minha amiga que quase esqueci do real motivo de eu estar tão enfeitada pra aquela festa.

 

domingo, 14 de abril de 2013

Eu sei, eu sei... um pouquinho exagerada toda essa produção pra uma festinha de despedida num dia de semana, depois do expediente...

Mas, chame de sexto sentido ou sei lá o quê, eu precisava ser notada pelo Number One. Nem que fosse pelo exagero.

E tinha aquela garota linda... linda, não... lindíssima do face. E se ela estivesse lá? Poderia estar de jeans velho e desbotado, e regata... ainda assim seria mil vezes mais bonita do que eu.

Falando em beleza, não sou nenhuma beldade não. Não sou feia, sou  normal, bem normal. Meu rosto é um pouco redondinho, meus olhos são castanhos esverdeados, meu nariz é proporcional ao rosto... acho que só meus lábios merecem que eu fale deles. São saudavelmente carnudos, mantenho-os bem hidratados e uso sempre um batãozinho pra dar uma corzinha. Fora isso, nada em mim chama a atenção.

Meus cabelos... castanhos, um pouco ondulados, na altura dos ombros... normais.

Tenho 1,70, peso 59 kg, procuro manter uma boa postura, vou à academia pelo menos três vezes por semana, ando de bicicleta e faço longas... longuíssimas caminhadas. Sempre que possível com meu amigo, Jorge.

Cuido da alimentação - às vezes, como um monte de besteira, três ou quatro dias seguidos, depois volto ao normal. Bebo bastante água, não fumo e nada de álcool. Isso tudo ajuda a manter a pele saudável. E é só. Então, não me imagine como aquelas lindas atrizes de cinema ou de novela.

Agora, a garota do face... essa sim... você pode imaginá-la belíssima. E se um dia tiver a oportunidade de cruzar por ela nas praias da nossa Ilha da Magia, com certeza vai pensar 'muito mais linda do que imaginei'.

Então exagerei na produção... Tudo bem, é por uma boa causa, acho.
A noite estava fresquinha... um ventinho leve soprava... o vento Sul tinha tomado seu rumo. O único satélite natural da Terra aparecia e sorria pra logo desaparecer atrás das nuvens que lentamente  passeavam pelo céu. Ao longe o ribombar de um trovão... o resto tudo quietinho, quietinho... um silêncio que só era quebrado por uma música e o som de vozes abafadas, dentro do salão de festas.

Passava um pouquinho das 21 horas quando cheguei à festa. Já estava todo mundo lá... comendo, bebendo, sorrindo, dançando... se divertindo... tudo exatamente como acontece em qualquer festa. Então, não vou contar detalhes, tenho certeza de que você consegue visualizar sem minha ajuda, sentir sem minha ajuda, ouvir sem minha ajuda... acertei, não é?

No meio de toda aquela gente eu procurava o dono da festa. Claro que demorei para encontrá-lo... nem sabia exatamente quem procurar. Havia o pessoal da clínica, mas havia também outras pessoas, pessoas que eu nunca tinha visto antes.

Cumprimentos, beijinhos, abraços... e fui passando pelo salão. Os meus olhos andavam mais rápidos que os pés. Estes tinham de parar de vez em quando e esperar que eu respondesse aos cumprimentos, agradecesse os elogios.

Sim, eu me arrumei todinha pra festa.

Sou uma pessoa básica, bem básica. Meu look principal: jeans, camiseta ou camisa, tênis ou sapatilha (sempre brancos)... o meu colorido está nas camisetas e camisas... ah! e nos lenços... a-do-ro lenços... tenho-os de todos os tipos, cores e sabores...

Mas, pra festa, eu me produzi. E, é claro, que ninguém conseguiu deixar de perceber... 'onde está a Doc básica que conhecemos?', ouvi pelo menos  meia dúzia de vezes.

Vestido de musseline com um toquezinho de seda azul-marinho, com apenas um ombro e três saias sobrepostas. Um cinto do mesmo tecido, com um laço delicadíssimo...Sandália salto 10 (que me atrapalhou um pouquinho pra andar com elegância), prata, com um laço de festa, também delicadíssimo. E uma pulseira trançada com fio de strass... quase invisível... mas brilhava conforme eu mexia o braço... muito linda! E, modéstia à parte, eu também estava muito linda...

Ah! a pulseira foi presente do Jorge.

sábado, 13 de abril de 2013

Ah! que maravilha é a tecnologia. Você digita o nome de alguém no Google e em instantes uma enxurrada de informações. Nem preciso dizer que li tudinho a respeito do 'dono da festa'.

Nossa... o cara é bom mesmo...uma quantidade enorme de artigos... a tese dele é simplemente espetacular. Ele lida com a doença, com a morte... mas o que ele tem mesmo é vida.... amor pela vida, um entusiasmo, uma vontade de ajudar, de fazer algo bom, deixar sua marca.

Mas eu estava mesmo curiosa pra ver como ele era fisicamente. Melhor lugar: facebook. Claro que tenho. Então entrei no face dele louquinha pra ver fotos, fofocas, vida social, etc., etc. Mas, confesso que me decepcionei.

Havia uma foto na capa... de alguém em uma manobra dentro da onda.... tubo. Acho que era ele. A foto era fantástica, mas nem com todo o esforço do  mundo consegui distinguir os traços físicos do surfista.... e só.

Havia um álbum de fotos... mas todas do mar, surf, pranchas... nada que o identificasse.

E havia postada uma foto de uma festa... um monte de gente (sem marcações). Resumo da ópera: só vou ver o rostinho do doctor na hora da festa.

E tinha algumas frases, links de textos, fotos... tudo da África. Dedução: o cara é amarradão na África mesmo. Definitivamente ele desenvolveu um amor incondicional por esse continente.

Pra encerrar: já estava curiosa... agora mais ainda. Um médico, surfista, amante da África.... que combinação interessante pra alguém que logo, logo vou chamar de Number One.

Só não gostei de uma coisa no face... uma tal de Ana Carolina - uma morena lindíssima curtiu tudo o que ele postou e, ainda por cima, comentou tudinho, tudinho...Quem será essa chata?

Ai meu Deus, será que estou com ciúmes? Não, não, nem conheço o cara ainda... não pode ser. Ou pode?

Sexto sentido?

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Claro que fiquei tentada a perguntar se ela iria a festa do ilustre 'desconhecido'... só tentada. Faltou-me a coragem que há nela.

Em minha sala o laptot já estava ligado... com um clique apareceu a tela com as informações sobre minhas atividades até o fim do dia. Minha secretária é simplesmente exemplar.

Consulta... consulta... paciente desmarcou consulta... ops, isso é ótimo. Estou curiosa demais pra conhecer o Mister 'desconhecido', vou aproveitar esse horário livre pra fazer uma pesquisa no Google... facebook... sei lá mais o quê. Vou descobrir tudinho desse amado de todos.

Os dois atendimentos foram tranquilos... ambos eram retorno para acompanhamento e, graças a Deus, o tratamento estava surtindo efeito e os efeitos colaterais eram perfeitamente contornáveis, aceitáveis, conviváveis (acabei de inventar esta palavra, não procure o significado no dicionário porque lá ela não está).

Mas, se você ficou curios@ para saber o que quer dizer, eu explico.

Há efeitos colaterais que quase matam a pessoa fisica ou psicologicamente. Há efeitos colaterais 'conviváveis', quer dizer, dá pra conviver com eles tranquilamente. Dependendo do medicamento, há diminuição da ânsia, queda de cabelo, diarreia. E essas minhas duas pacientes estavam no quadro daquelas que reagem bem ao medicamento receitado... Melhor qualidade de vida.

Melhor qualidade de vida. Ou uma vida com qualidade, ou morte... pra mim é assim. Há tratamentos aos quais meus pacientes são submetidos que jamais eu receitaria pra mim. Não tenho medo da morte..portanto, ou vida com qualidade, ou morte. Mas, é claro, há pessoas que não pensam assim e, então, submetem-se a qualquer tipo de tratamento. Agarram-se à vida com todas as suas forças e vão vivendo do jeito que dá.

Eu... não. Se um dia a doença chegar, vai chegar e me matar... não encontrará resistência nenhuma em mim.

domingo, 7 de abril de 2013

No corredor, encontrei Cássia - o general. Assim ela era chamada.

Suas atitudes duras, decisões inflexíveis, seu tom sempre tão autoritário tinham lhe dado a fama. E eu a via e lembrava, invariavelmente, da obra de Shakespeare, 'Otelo, o Mouro de Veneza'. Cássia era o oposto desse personagem veneziano estimado, leal, que inspirava grande confiança, e tinha atitudes nobres. Só numa coisa os dois se pareciam: na coragem... ela, principalmente, a coragem de andar tranquilamente pelos corredores, sabedora do sentimento que a clínica toda nutria por ela.

Cássia, Dra. Cássia...  A cardiologista (com A maiúsculo mesmo)... um ser humano totalmente desprovido de humanidade.

Cumprimentei-a, ao que ela respondeu com um aceno da cabeça, sem tirar os olhos do chão.

Segui em frente, pensando: O que leva uma pessoa como essa escolher uma profissão na qual temos de ter as características que Sir William Osler discute em seu livro, Aequanimitas.

Continua...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

No elevador, duas enfermeiras conversavam sobre a festa de despedida.

- Que pena que DMD vai embora... e nunca mais vai voltar - dizia uma delas.

- Ah é? Ele nunca mais vai voltar?

- Não, não vai... ele sempre diz 'o meu destino é a África'...

- Ele não tem família aqui? Ou tem família e vai levá-la junto pra África?

- Tem família sim... pelo que sei os pais e dois irmãos... mas não é casado. Lembro que ele dizia 'sou casado com a pediatria... amo o que sou, amo o que faço e isso me basta'.

- Hum... entendi... o eterno solteirão, bom partido que vai partindo corações, mas nunca se envolve...

E não consegui ouvir o resto da conversa porque elas saíram no 6º andar. Curiosa, assim que me senti no restante do dia... volta e meia voltava à minha mente um DMD sem rosto, que me intrigava. Quem seria ele? Como seria ele? Por que era tão querido pelas pessoas que o conheciam?

Mas, o mais intrigante era eu volta e meia voltar a pensar nele... sexto sentido? Sei lá...

Continua....

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Olhei pro relógio. Faltavam cinco minutos para a primeira consulta da tarde. Pensei 'dois minutos para ver os preparativos no salão... um minuto para subir pro meu consultório... três minutos para escovar os dentes, lavar mãos e rosto, e passar um cremezinho, retocar a maquiagem e estarei prontinha pra mais turno de trabalho'.

Então, em vez de pegar o elevador, me dirigi ao salão de festas. Um salão grande, de aproximadamente 100 m², moderníssimo, decorado com extremo bom gosto. Obra de nosso amado diretor, Dr. Ed.

Logo na porta encontrei Ana Maria, a nossa recepcionista noturna. "Fazendo hora extra?", perguntei, sorrindo... "sim, sim... por uma boa causa", respondeu ela mostrando os dentes mais perfeitos que já vi em minha vida. "É o DMD que vai partir... vai embora e, como diz ele, pra nunca mais voltar."

"Hum,,, está certo... então à noite venho conhecer esse tal de DMD... que vai embora pra nunca mais voltar", falei pra ela dando uma última olhada pro salão.

Balões coloridos, mesas com toalhas branquinhas, branquinhas... copos, taças de cristal, pratos, talheres... e várias caixas que, deduzi, deveriam ser de docinhos da Marta. Sempre, em nossas festas no salão, quem faz os docinhos é a Marta... porque todo mundo que gosta de doces, adora os docinhos dela.

Chuviscava lá fora... 16 horas... minha última consulta do dia. Que bom, teria um tempinho pra ir pra academia, passar no supermercado (faltava de tudo em casa) e me preparar para a festa de despedida de alguém que eu nem conhecia. "E nem conheceria", pensei eu... é impossível conhecer alguém, conhecer pra valer, em duas ou três horinhas de festa... de sua despedida."

terça-feira, 2 de abril de 2013

No estacionamento, encontrei o diretor do hospital, Dr. Edgar. Pense em uma pessoa invadida pela bondade humana. Assim é o Dr. Ed, como chamamos carinhosamente.

"Então, querida, vai participar da festa?" "Festa? Que festa? Aquela perfumada que vai acontecer no salão?", perguntei eu. "Festa de quem? Do quê?"

Ele sorriu e disse "é uma longa história... vamos indo que te conto".

Passamos pelo estacionamento que já estava quase lotado. Havia algumas pessoas conversando na entrada do hospital e o vaivem de caixas, balões parecia ter diminuído. E ele me contou a linda história de DMD, o Number One, de quem falei no início.

Devagarinho vou contar pra você. O que importa saber agora que era uma festa de despedida de alguém muito querido, pela humanidade inteira (pelo jeito carinhoso como Dr. Ed falava sobre ele).

DMD ia pra África.

Àquela hora da tarde o sol brilhava bem em cima de nossas cabeças. Brilhava e se escondia, parecia brincar de esconde-esconde. "Olha eu aqui!" "Agora não estou mais."

Grossas nuvens escuras preanunciavam chuva, que poderia vir ou não. Talvez o forte vento sul que soprava desde cedo levasse-as para longe... talvez não. Nunca consigo acertar se chove ou não quando olho pro céu.

Claro, eu não perderia a oportunidade de conhecer 'essa pessoa tão bacana, tão humana, tão... tão'.

E aí a onda de melancolia ficou mais forte. 'Melancolia' significa um estado de tristeza e apatia que invade alguém. Dizem que a melancolia "é um tipo de depressão e possui os mesmos sintomas: a pessoa não se interessa por nada ao seu redor, nenhum acontecimento traz prazer ou alegria e a vida deixa de ter interesse".

Pela definição não era melancolia o que eu sentia, porque me interesso por tudo, ou quase tudo, o que acontece ao meu redor...

Na verdade, não sei explicar muito bem o que me aconteceu... um aperto no coração, talvez isso, sim acho que foi isso.

domingo, 31 de março de 2013

A avenida Beira Mar estava melancólica também, recebeu-me de braços abertos, poucos carros transitavam por ela e assim ela se dispôs a me fazer companhia... ou eu fazer companhia a ela.

Você conhece a Beira Mar Norte da minha cidade? Ela tem outro nome: Avenida Jornalista Rubens de Arruda Ramos, mas acho que pouca gente conhece-a com esse nome. É uma avenida movimentada, acho que mais de gente do que de carros, mesmo. Há pessoas caminhando, correndo, passeando, há ciclistas, patinadores, skatistas... em qualquer hora do dia, antes mesmo de o galo cantar, até altas horas da noite, faça sol ou chova.

E é lindo lá. São quase sete quilômetros de extensão, contornando a baía Norte. De um lado prédios luxuosos, de outro o mar. Nunca olho pro lado dos prédios. Não poderia nem dizer de que cor são, só sei que são luxuosos porque conheço algumas pessoas que moram por lá. E é gente cheia, cheia da grana. Então... tire sua própria conclusão.
Meu olhar se fixa no mar. Amo o mar. E é claro, não me esqueço de que estou na direção.

Vivo cercada de morte. Vejo a morte agindo diariamente; às vezes até duas ou três vezes no mesmo dia. Tenho medo da morte. Então presto atenção, muita atenção na estrada quando estou dirigindo. Mas dou espiadinhas no mar - é assim que você deve interpretar 'meu olhar fixo no mar', certo?

Não quero morrer. Sei que vou morrer, mas não quero... pelo menos não tão cedo. E vou lutar contra a morte, vou me agarrar à vida até o último suspiro.

Você já assistiu ao pôr do sol na Beira Mar? Não, então passe por lá num dias desses de calor, de céu claro, e veja com seus próprios olhos a maravilha que é. Pra não estragar a surpresa não vou contar como é :)

Cheguei ao hospital exatamente às 13:55. Não sei por que escrevi 'exatamente'... só pode ser 'exatamente', não pode ser 'mais ou menos às 13:55'... nem 'aproximadamente às 13:55'. Mas agora que escrevi e que você já leu, vou deixar como está.

A recepção continuava com cheiro de festa no ar.

Continua....