sexta-feira, 31 de maio de 2013


Um profundo silêncio se seguiu às minhas palavras... só quebrado pelo barulho das ondas quebrando na praia...

O vento havia parado... as nuvens eram as mesmas de quando havíamos chegado à praia... e o sol se havia movido um pouco mais na direção do quase anoitecer.

'Que bela dupla nós dois formamos'... sussurrou Noa em meu ouvido. Então me abraçou carinhosamente... encostei meu rosto no ombro dele e nos deixamos ficar assim pelo espaço de uma eternidade.

... eternidade passando.

'Agora quem escolhe a praia é você', disse ele, erguendo-se e estendendo a mão para que eu me levantasse também.

Certo! Vou levar você pra comer a melhor empadinha da ilha, falei.

E fomos para o lugar mais fofo da Ilha.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Noa saiu da água, sentou ao meu lado e me perguntou: 'quer saber por que estou indo pra África?'.

Sim, quero... e ele começou um verdadeiro monólogo, interrompido de quando em vez por 'hum.. hum... entendi', meus.

'Nasci na Áustria. Conheço mais de setenta países, vivi em quase dez diferentes. Meu pai foi Embaixador do Brasil por muito tempo. E por essa razão viajávamos muito. Conheço muitos lugares, conheci muita gente.

Sempre tivemos uma vida muito tranquila, nunca nos faltou nada, estávamos sempre cercados por pessoas atentas às nossas necessidades.

Meu pai e minha mãe, embora com todo o dinheiro, regalias, cuidados que tínhamos, sempre nos mantiveram com os pés bem no chão. Claro, nunca nos privaram de nada que o dinheiro pudesse comprar: roupas, boa comida, brinquedos - quando crianças -, melhores escolas.

Eu e meus irmãos - JC o mais velho e AC a caçula - falamos com total domínio sete línguas: português, inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e russo... nossas vidas nos permitiram isso, nossas viagens... e, acima de tudo, a sabedoria de nossos pais em nossa educação. Educação de elite? Sim tivemos isso.

Mas tivemos muito mais... tivemos amor e carinho de nossos pais, vivemos em um lar em que não faltava absolutamente nada de material e nada de mais nada. Cresci em uma família equilibrada com pais extremamente altruístas. Conheci o significado de filantropia... nem lembro quando.

Morei na África dos meus 8 aos 12 anos. Na África do Sul, claro.

E conheci o outro lado da África pelos olhos de mamãe. Ela é enfermeira... deixou de trabalhar quando AJ nasceu e se tornou mãe em tempo integral pra sempre desde então.

Quatro ou cinco vezes por ano, íamos - ela, nós, os três filhos, e o motorista de papai - para alguma cidadezinha... um vilarejo qualquer... uma tribo escolhida a dedo por mamãe. Íamos carregados de roupas, mantimentos, brinquedos, medicamentos e o amor de minha mãe pelo ser humano entregar tudo a algum responsável que pudesse distribuir entre as pessoas do lugar escolhido.

Uma verdadeira aventura para mim e meus irmãos.

Normalmente eram missionários, freiras,... pessoas que haviam abdicado de suas vidas para minimizar a dor do outro que nos recebiam no local. Nosso contato era sempre com esses voluntários... de algum órgão, instituição... Nunca tínhamos contato direto com quem recebia o que doávamos.

Passávamos por esses lugares e voltávamos para o oásis que era a nossa casa. Não ficávamos para ver a miséria, a dor, a tristeza, o sofrimento... nem a alegria de quem recebia os donativos.

Em uma dessas viagens, o carro estragou e precisamos ficar um dia até que chegasse socorro mecânico... e aí eu desci do carro.

Foi a primeira vez... e lembro que insisti com Will - nosso motorista - que andasse pelas ruas comigo - eu estava curioso... queria ver o rosto das pessoas de quem mamãe sempre falava com enorme emoção na voz.

Que rosto têm essas pessoas que não têm nada?

Ele concordou, com autorização de minha mãe, é claro.... meus irmãos ficaram com ela na pequena casa dos missionários que fariam a entrega dos 'presentes'.

Foi nesse passeio que decidi meu futuro: eu seria médico e trabalharia num lugar como aquele... eu ajudaria pessoas, estava decidido.

De astronauta... sim, eu quis ser astronauta rs... para veterinário - dos meus safáris pela África - passei à medicina de gente... de gente que desesperadamente precisa de ajuda.

E amanhã eu parto... sabe como eu vejo este mundo como vivemos? Como um enorme quebra-cabeças que alguém está tentando montar e não consegue colocar as peças certas no lugar certo. É um enormíssimo quebra-cabeças com a maioria das peças fora do lugar... há buracos, há peças espremidas demais entre outras que exercem uma força monstruosa, há peças jogadas em um canto, esperando para serem colocadas no lugar certo... e há algumas exatamente onde devem estar... são tão poucas essas.

Eu vou me colocar no lugar certo... sou um grãozinho de nada que vai tentar ajustar um pedacinho de nada deste mundo todo torto... não farei grande diferença... mas não importa o tamanho - eu seria louco de querer consertar o mundo, não é!? Vou consertar o que minhas mão conseguirem consertar... é isso'.

Pra você o mundo é um quebra-cabeças?, perguntei.... pra mim é um enorme balaio de gatos... que não conseguem sair dele e pra sobreviver um vai comendo o outro... o mundo é isto pra mim: um balaio de gatos... em que quem pode mais/ou mia mais chora menos.... sofre menos.
Canibais... comendo sua própria carne.
Embora as nuvens cobrissem o sol por boa parte do tempo, de quando em quando ele aparecia... estava quente. Um calor ameno, nada sufocante.

Tirei as sandálias e molhei os pés na água do mar. Consciente cada vez mais da presença de Noa. Inconsciente do que realmente estava acontecendo. Eu estava feliz, eu sentia paz... estava no lugar certo, na hora certa, com o cara certo. Estava tudo tão bem.

'Vou dar um mergulho... o último mergulho em mares brasileiros', falou Noa, mais de si para si do que para mim. Naquele momento, pareceu-me que ele estava só, só com ele mesmo... era como se eu não estivesse ali com ele. 'Você quer entrar na água?', perguntou ele olhando para mim.

É nesse momento que a mocinha do filme deixa escorregar o vestido até o chão. Aparece em roupas íntimas maravilhosamente perfeitas, em um corpo maravilhosamente perfeito... e em câmera lenta entra no mar.... linda... linda...

Só em sonhos... ou em filmes. Ali, naquele momento, era vida real.... Não havia mocinha linda, só eu mesma... e recatada demais para ficar diante de um homem em um primeiro encontro - que não era necessariamente um encontro - seminua... não eu.

Fiz que não com a cabeça e, com a mão fiz sinal de que o mar era todo dele. Noa entrou na água e, em um mergulho, desapareceu, para aparecer lá na frente... depois das ondas.

Um menino com um brinquedo novo... foi a imagem que ficou gravada... congelada em minha mente, e, claro, pelas lentes de meu celular.

Sentei na areia e fiquei no presente, inteira. Toda eu estava ali... com todos os sentidos à flor da pele.

O que me será cobrado depois de toda essa paz?

terça-feira, 28 de maio de 2013

O que é a força do pensamento!? O que é a vontade de uma pessoa!? O vento vem lá do outro lado do mar me trazer o som da voz de Noa.

Amo o vento... nas noites de vento sul, leste, oeste, norte... não importa da onde ele parte... eu sei, ele passa pelo continente onde Noa está, recolhe em sua alma - sim, o vento tem alma (tudo tem alma quando você está apaixonado) - o som da voz de Noa e o traz até os meus ouvidos.

Deito na rede, na área de minha casa, fecho os olhos e deixo o vento me acariciar... o corpo e a alma.

Eu ouço a voz do meu amor. Tão distante, lá do outro lado do mundo, ele está. Mas eu o ouço. E fim. Não adianta discutir comigo, argumentar, provar por a + b que estou errada, nada vai deixar de me fazer ouvir a voz dele no vento que do outro do mundo lado vem.

Depois da Joaquina, passamos pela Praia Mole. 'Quantas vezes estive aqui!', Noa exclamou. Vi o seu olhar atravessar a praia de uma ponta a outra. Vi-o olhar firmemente cada gota de água daquele marzão imenso à nossa frente... olhar pro céu, apontar as poucas nuvens de algodão que curiosas olhavam tudo aqui embaixo. Ouvi-o dizer: 'como gosto de nuvens'.

Não sei se já falei, mas sou uma apaixonada por nuvens. Alma gêmea é assim? Gosta das mesmas coisas, não gosta das mesmas coisas, sorriem ao mesmo tempo, se entristecem juntas?

'Um dia, um carro com três turistas passaram por mim na Beira-mar, pararam e me perguntaram: tu podes informar onde fica a Praia da Maria Mole?', contei pro Noa...

Ele deu uma gargalhada... a mais gostosa gargalhada. Gosto de pessoas que dão gargalhadas. Tenho uma amiga psicóloga, Juliana, que é a dona da mais gostosa e linda gargalhada que já ouvi. A-do-ro a gargalhada dela.

Acho que o Noa ganha da minha amiga... não, não. A da minha amiga ainda merece o primeiro lugar, ambos estão em primeiro lugar - gostosas gargalhadas.

'Claro que eles se enganaram', completei... 'mas quase me fiz de boba e perguntei se eles estavam procurando a praia da Maria Farinha e mandei lá pra Recife', eu completei.

E ele riu de novo... que lindo!

Essa coisa de se apaixonar é muito boa... mas definitivamente deixa a gente meio abobalhada...

No carro, tocava Kitaro....nada poderia ser melhor.

Da Mole fomos direto pra Moçambique.

Nesse momento me deu um aperto no peito. Um dia... um dia... eu ganhei de presente o amor, por um dia.

Ah! e não pense não que eu me dei conta de tudo isso na hora em que estava acontecendo. Não, claro que não. Só percebi tudo depois, em retrospectiva.

As nuvens chegaram em maior quantidade e não foram embora tão cedo.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quantas vezes eu revivi em pensamento aquele dia e início de noite!? Milhares de milhares.

Primeiro a Joaquina, que Noa conhece de cor. Enquanto caminhávamos pela areia, Noa me deu uma aula de Geografia e História. 'A praia tem 3.000 metros de extensão e sua largura varia de 8 a 70 metros. Nem sempre se chamou Joaquina; a denominação é recente, aparecendo pela primeira vez em mapas a partir de 1975, antes  era chamada de praia do Campeche.... que está logo aí adiante', falou  apontando na direção do Campeche.

O sol batia no mar que refletia o céu. Um mar prata e azul... azul da cor do mar, exatamente como tem de ser o mar. A areia macia acariciava nossos pés - adoro pés. Os pés de Noa... lindos!

'O nome Joaquina parece ter sido dado em homenagem a Dona Joaquina, uma moradora das praias do leste desta nossa bela ilha; Dona Joaquina, uma mulher bondosa, que ensinava as outras mulheres que moravam por perto a fabricar utensílios domésticos de linhas entrelaçadas, e também alimentava os pescadores que apareciam em sua casa'... continuava a voz forte e doce de Noa.

Eu flutuei; eu sei, eu sei, é impossível uma pessoa flutuar. Mas, eu juro, eu flutuei... não consigo colocar em palavras a sensação de não sentir meu corpo... eu flutuei: é o mais perto que consigo chegar da descrição daquela meia hora, daquele meio dia e pedacinho de noite.

O vento soprava muito de mansinho e só de quando em quando... "Dona Joaquina foi tragada pelo mar... ela trabalhava com suas rendas e encantada - assim como você está -' ele falou e piscou pra mim... tenho certeza de que fiquei vermelha... 'calma, calma'... repeti pra mim mesma...

'não percebeu a maré subir, e o mar levou Dona Joaquina que flutuou em suas rendas até sumir lá - ele apontou - lá naquela linha em que a Terra começa a ficar redondinha'.

'Que fofo'... pensei... só pensei.

E tiramos fotos, muitas fotos. Bendita tecnologia dos celulares que permite deixar registrado os momentos felizes, os momentos lindos.

Nenhuma de nós dois juntos... ele sozinho, eu sozinha... e o resto... todo o resto que estava ao nosso redor.

Agora, toda vez que vou à Joaca - apelido carinhoso que a praia ganhou -, fecho os olhos e revivo cada momento daquele dia. Ouço no vento a voz de Noa.

A voz de Noa.... Se eu, de olhos fechados, ouvir as bilhões de vozes que existem no mundo, você sabe que eu vou reconhecer exatamente a dele... você sabe, não sabe?

Eu sei...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Noa Feminino Eau de Toilette, da Cacharel: floral aromático, com notas de almíscar branco, peônia branca, café e coentro.... Noa, meu perfume preferido.... maravilhoso!

Simples como a vida deveria ser, pé no chão, cabelos ao vento... sardas no nariz.

Marcante como cada pessoa deveria ser, personalidade, inteligência, beleza - por dentro e por fora.

Discreto como cada pessoa deveria ser, sempre um mistério envolvente  no ar.

Suave como a vida de cada um deveria ser, delicada como a brisa no amanhecer.

Requintado...

E foi assim que Number One mudou pra Noa - dá pra entender porque resolvi chamá-lo assim, não dá? N .... O .... Amor! Amor, que eu havia jurado nunca querer pra mim.

Meu perfume preferido.... e fica mais agradável com o passar do tempo :)

E Noa foi tão querido... O que posso esperar com o passar do tempo?

Que tempo, doc? Vocês não têm tempo nenhum :(

Meodeos, por que você tem sempre que ser tão racional? Pelo amor de Deus, haja como uma pessoa normal... pelo menos uma vez na vida.

Pois é, foi o dia mais feliz de minha vida, mas alguns pensamentos insistiram em me atormentar (juro, eu fiz de tudo pra bem longe os mandar).

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Destino colocou Number One em minha vida e eu na vida de Number One.

Almoçamos juntos - o diretor, Number One e eu.

O diretor tinha de estar em seu consultório à tarde; eu... eu estava de sobreaviso; Number One havia decidido que seria sua tarde de despedida da Ilha.

Quando estou de sobreaviso fico pelo centro. Aproveito pra visitar meus avós, minha tia, amigos, andar por aí... ou passear com Jorge. Nunca vou para casa.

E nesse dia, depois do almoço combinado com titia - que desmarquei, lembra? -, íamos visitar uma amiga. Claro, visita desmarcada também.

Tudo culpa do destino.

Passei a tarde mais linda de toda a minha vida. Não, não fiz nada do que já não havia feito antes, nenhuma novidade... a não ser pela companhia. Que doce companhia.

Number One, depois dessas maravilhosas horas que me fez passar, transformou-se em Noa... meu querido, lindo, sweet Noa...

Não, não sou nada romântica... mas não dizem que o amor transforma a gente?


sosweet12.blogspot.com

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Quando duas pessoas nascem pra ficar juntas, elas ficarão juntas... é o destino.

Perfeito, adoro essa frases feitas. Frases feitas pra levantar o moral da gente.

O que é o destino? De acordo com a Wikipédia, "o Destino é geralmente concebido como uma sucessão inevitável de acontecimentos relacionada a uma possível ordem cósmica. Portanto, segundo essa concepção, o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, da qual nada que existe pode escapar".... e o grifo não é meu, não... é da própria Wiki :)

Ordem cósmica.... que tipo de 'ordem' é essa? O que o cosmos tem a ver com a minha vida? Sou eu mesma que alimento minha vida. Na hora em que eu decidir parar de comer, por exemplo, a minha vida vai acabar. Devagarinho.... leva alguns dias pro fim dela chegar. Mas, é inevitável: se eu não comer, não alimentar meu corpo, ele morre. Então, o que o cosmo tem a ver com isso? Como pode o cosmo interferir na minha vontade de comer para eu continuar vivendo?

Provavelmente, minha vida é mais que meu corpo... da minha própria vontade... só assim consigo pensar que não tenho controle sobre minha vida. Há algo mais, que não tenho a mínima ideia do que seja, que me segura viva; que me faz seguir por determinado caminho e evitar outro; que traz até mim o que tem de chegar até mim... Abre parêntese: veja que usei a expressão 'tem de' o que indica obrigatoriedade, ou seja, obrigatoriamente o que tem de chegar a mim, chegará... não conseguirá escapar, nem pela tangente... fecha parêntese.

Que poder tem esse algo mais no cosmos que consegue manipular minha vida? Todas as vidas? Se você pensar bem, inclusive a sua!? Que poder! Qual o tamanho dessa força? Daí é um daqueles momentos em que eu penso que só pode ter um Deus, sim. Um Deus que eu não consigo entender.
Também não tento mais entender, gastei todas as minhas forças. Agora, se está 'destinado' que eu O entenda, Ele vai se fazer entender... ou jamais O entenderei. Ele próprio vai me empurrar na sua própria direção.

O Destino conduziu duas vidas... uma na direção da outra, num encontro tão lindo, tão suave, que me fez amar o Destino (agora o grifo é meu).

Mas não vou amá-lo sempre, nem pra sempre.




quinta-feira, 16 de maio de 2013

12:22 ou 12:23 ou 12:24... não importa.

Entrei no salão e um frio percorreu minha espinha. De bermudas cinza claro, com uma lista preta do lado... uma camiseta num tem de cinza mais escuro e sandálias Havainas de tiras pretas... Number One.

Num primeiro momento não me viu, estava meio de lado para a porta, conversava com nosso amado diretor.

Minha primeira reação foi sair de mansinho sem fazer barulho... Tarde demais... nosso amado diretor me viu e exclamou: 'doc!'

E aí Number One virou-se, me viu e sorriu.

Acho que eu fiquei meio abobalhada... não consegui sair do lugar; e os dois vieram em minha direção.

O pouco de mim que se mantinha sóbria repetia baixinho: 'está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem'. Claro estava tudo bem... bem demais, acho.

Ganhei o abraço afetuoso que sempre ganho do nosso 'chefe'.... e um aperto de mão e um sorriso que nunca mais vou esquecer do lindo dono das Havaianas.

O diretor ia fazer as apresentações, mas N. O. adiantou-se e falou: 'a gente se conheceu ontem na festa'.

'Ele lembrou... sorri pra mim mesma :)

Aí tudo aconteceu muito rápido. Os dois estavam saindo para almoçar juntos e fui convidada. Aceitei, que não sou boba nem nada. Um breve telefonema, desmarquei meu almoço com minha tia e lá fomos nós.

Uma história de felicidade e de amor, de um grande e lindo amor, havia nascido na noite anterior, agora estava qual um bebê descobrindo seus primeiros momentos no mundo. Como é lindo e como aquece minha alma quando lembro de cada minuto daquela tarde e noite que passamos juntos - Number One e eu...

O 'chefe' tinha outros compromissos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O dia seguinte da festa de despedida de Number One:

5 horas... acordei, virei pra um lado, pra outro... depois pra outro. Tentei me asfixiar com o travesseiro pra ver se o sono voltava, nada... perdi o sono, definitivamente.

5:15 - levantei, coloquei moleton e tênis.

5:25 - estava correndo na praia.

O ar frio, a areia molhada, o barulho do mar... lá longe um fiozinho do sol começava a dar as caras.

6:25 - entrei no mar de roupa e tudo, exausta.

Estou correndo do quê?

Chorei, chorei, chorei... fazia tempo que eu não chorava assim. Controlo minhas lágrimas, elas só escorrem pelo meu rosto quando deixo, ou quando não aguento mais. Definitivamente: não aguento mais.

7:15 - Suco de laranja e ovo molinho bem quentinho.

7:25 - Carro em disparada - já disse que corro... corro mesmo - mas respeito o limite de velocidade: estou sempre no limite.

7:50 - Túnel .... acidente (nada grave soube depois pelo noticiário só mais um congestionamento e algumas pernas e braços quebrados) - vou chegar atrasada à clínica.

8:45 - Atendo com atraso meu primeiro paciente.

11:50 - Atendo meu último paciente... com atraso também.

Mas ninguém reclamou. Ainda bem.

12:15 - Entro no elevador - cheiro de festa.

12:17 - Hall de entrada - cheiro de festa.

Não resisti... fui em direção do salão. Segui o cheiro de festa, que ficava cada vez mais forte e me chamava com seu sabor adocicado.

Segui a direção errada; era para eu sair pela porta da frente, sem olhar pra trás, sem me importar com o cheiro de festa, sem me importar de que Number One passou por alguns segundos por minha vida.

Mas, não, eu com a minha idiota teimosia... o que que eu estava pensando? Que iria encontrá-lo no salão?

Definitivamente a gente não tem controle de nada o que acontece na vida da gente. E eu disse: a vi-da é da gen-te... ou não é?

12:22 - ??

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Gosto de arte. Tenho uma admiração imensa pela criação: de um quadro, uma escultura... meu escultor preferido: Rodin.

Um bloco de pedra, de granito, da mármore... um pouco de gesso... inspiração e de dentro sai uma maravilha. Fico me perguntando em que momento o escultor vê sua obra pronta?  Antes de ela nascer em suas mãos... ou ele se deixa surpreender com o produto final como nós - os admiradores? Deve ser simplesmente fantátisco esculpir, dar forma ao informe.

O tempo foi passando e eu fui me aperfeiçoando na arte de esquecer.

Mas quando visito museus, a lembrança de papai é tão forte que não consigo deixá-lo do lado de fora.... ele me acompanha, segue ao meu lado e ouço sua voz me explicando tudinho, tudinho.

Será que ainda tenho alguma esperança? Não, claro que não... levou tempo, mas eu consegui me desgarrar de qualquer esperança.

Cultivei o desapego... li em algum lugar que há situações em nossas vidas em que 'somos obrigados a perder cascas' - como cebola rs... As cascas servem de proteção enquanto é necessário; quando você precisa usar a cebola a casca não serve pra nada, tem de jogar fora.

Acho que é mais ou menos assim na nossa vida: temos várias camadas de casca... conforme a situação tiramos e jogamos fora uma ou duas... até chegarmos à essência.

Aprendi a cultivar o desapego pra tornar a vida vivível... não que eu tenha gostado da experiência, mas aprendi e me acostumei... deixo pra trás o que não preciso.

Minimalista e desapegada.... tudo a ver. Daí, viver é bem simples.

domingo, 12 de maio de 2013

Quem não tem muito pra perder não perde muito.... verdade.

E foi assim que fui crescendo. Sendo uma perfeita minimalista.... sem detalhes, desprovida de excessos.... só tenho 100% de coisa de que realmente preciso e uso. Não tenho restos.... de nada.

Objetos em minha casa só os essenciais. Livros? Nenhum. Compro, ganho, leio e passo pra frente. Se tenho vontade de ler de novo, vou atrás de outro exemplar. Tenho carteirinha da Biblioteca Pública, da biblioteca da clínica, faço parte de um círculo de livros (há centeans de anos). O único livro que não consigo passar pra frente é a Bíblia. Dizem que é a história de Deus... vou ler até conseguir entender... já li e reli dezenas de vezes... e continuo não entendendo. Mas... um dia quem sabe?

Quando me deparo com algo de que gosto, penso: Preciso? Onde vou guardar? Se vou guardar... pra que comprar, né? Só compro se realmente vou usar.... e uso até gastar, ou enjoar... daí me desfaço.

Às vezes, até me apaixono por alguma coisa... mas aí aparece uma perguntinha: 'pra quê?'... e pronto desapaixono na hora.

Então, você entendeu que tenho só o essencial. Só numa coisa vou além do essencial: arte!

"A gente não quer só comida – a gente quer comida, diversão e arte", já diziam os Titãs, e eu concordo com eles em relação à arte. Comida: só o essencial; diversão: só o essencial - acho que até um pouquinho menos... o que falta em diversão compenso com arte.

O meu amor por arte herdei do meu pai.

Além do minimalismo, promovi constante desapego. Mas isso é pra outra hora... ;)
"Viraram três estrelinhas", quanta maldade há nestas três palavras juntas formando uma frase de consolo.

Quem em sã consciência quer que alguém querido, ou apenas próximo, de carne e osso vire uma estrela? Ninguém.

Lembro-me de noites e noites eu ficar olhando pro céu tentando adivinhar quais eram as três estrelinhas em que papai, mamãe e meu irmão tinham se transformado. Às vezes decidia por três quaisquer e esperava que fizessem um sinal pra mim, acenando ... com um brilho mais forte... que eu havia acertado.

Não preciso dizer que passei horas e horas tentando encontrá-los no céu. E a tortura de deitar em minha cama, cobrir a cabeça com o travesseiro, tentando sufocar a dor por me sentir tão incompetente em encontrá-los.... tão competente em não encontrá-los... quanta dor, raiva, ódio... de mim, das estrelas, de Deus (ou qualquer algo que tivesse me presenteado com uma família e, depois, tirado.. tudo de uma vez... e não me deixar sequer distingui-los do meio de tantas estrelas... todas iguais). Odiei a vida.

Por um bom tempo...chorei. 'Quem sabe com minhas lágrimas comovo alguém!?'

Nada... nem ninguém me atendeu. Até o momento em que acho que me acostumei.

Eu me acostumei a não ter esperança. Depois fui entendendo, deixando de ter raiva... acreditando, desacreditando... vivendo, como uma pessoa normal.

Assim é que é feita a vida: a gente nasce e a gente morre.

Não adiante reclamar, nem espernear; já é determinado... predeterminado. E quando entendi isso, mais ainda achei melhor as coisas terem acontecido como aconteceram. Um pouquinho diferente, e a dor seria de um dos três... e eu não queria isso pra nenhum deles.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Não lembro bem... não me lembro bem de quase nada daquele setembro, outubro, novembro.... e dos meses que se seguiram.

Tudo é muito nebuloso na minha mente. Agora que entendo um pouquinho de medicina, posso dizer que o que aconteceu naquela época e durou por um bom tempinho é que meu corpo, minha mente, alma...sei lá mais o que que compõe um ser humano anestesiaram-se.

E acho que só que porque eu estava anestesiada eu sobrevivi. Se eu estivesse completamente 'acordada', não sobreviveria.... parava de respirar - a dor é insuportável.

Uma hora a pessoa está lá... e depois não está mais. Adormeci tendo um pai, uma mãe, um irmão... quando acordei eles não estavam mais.... não só não estavam lá... não existiam mais.

Viraram três estrelinhas no céu (e eu quase acreditei... ou, por um tempo, acreditei).

De uma coisa que lembro é de eu sair procurá-los nos lugares que costumávamos ir. 'Eles estão lá... eles estão lá... eles estão lá' ... eu pensava com toda a força, com toda fé que uma criança de sete anos pode ter. É claro, eles não estavam.

Foi aí que eu aprendi que não é a fé que move montanhas...

Foi aí que comecei a conversar com Deus.... lembro que eu falava pra Ele que faria qualquer coisa que Ele quisesse se me devolvesse a minha família. Não preciso dizer que Ele não me devolveu.

E foi aí que eu comecei a duvidar da existência dEle.... um paradoxo... porque, ao mesmo tempo, eu acreditava do fundo da minha alma que Ele só podia existir sim...

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Pois, pois... a vida faz o que quer de nós, faz o que quer com o que pretensamente é nossa vida. Cedo aprendi isso... e acho que aprendi muito bem... acho... ou acho que continuo aprendendo... sei lá. Isso de tentar entender a vida não é fácil.

Talvez viver seja isto: aprender a aceitar a vida como ela vem. E aqueles mais maleáveis, aqueles que têm mais facilidade de se adaptar vivem mais tempo - se vivem melhor, não sei. Acho que há alguma coisa de correto no que Darwin pregou. A lei do mais forte.

Nosso corpo é mais de 70% água... creio que sei a razão disso. Somos mais água do que qualquer outra coisa... porque assim podemos tomar a forma que a vida se apresenta diariamente. Não é assim com a água? Ela não toma a forma do recipiente que a contém?

O dia amanheceu claro, nenhuma nuvem no céu... era setembro, 16 de setembro, mais precisamente.

Eu havia passado uma semana de cama. Uma gripe tinha me derrubado. Na noite de 15 de setembro, meus pais e meu irmão foram a um jantar na casa de uma amiga de mamãe. Como eu estava ruinzinha, preferiram que eu ficasse em casa, na cama. Prometeram que trariam um pedaço da melhor torta de damasco do mundo que a amiga de mamãe sempre fazia nesses jantares.

Fiquei. Tia Tânia, irmã de meu pai, ficou me fazendo companhia.

Como aconteceu? Um motorista de caminhão perdeu o controle na SC 401, invadiu a pista contrária, e os três morreram instantaneamente. É só isso que sei. Não, também sei que nunca mais voltaram pra casa.

Primeiro uma escuridão... depois uma dor impossível de descrever... em seguida amputações... mais amputações... mais amputações... às quais sobrevivi.

Depois você se acostuma

... e eu me acostumei. Agora penso que foi melhor assim. Ficou a mais forte. Tenho certeza de que nenhum dos três iria conseguir suportar tão bem como eu suportei.

Se eu pudesse escolher mudar aquela noite de 15 de setembro? Não... eu não mudaria nadinha.