terça-feira, 30 de abril de 2013

Imagine uma família feliz... onde tudo vai bem. Um pai, uma mãe e dois filhos - um menino e uma menina.

Um pai - psicólogo bem-sucedido, amoroso com seus filhos, com sua esposa, responsável. Um homem forte que não se deixava abater por qualquer dificuldade. Um homem que fazia tudo o que estava ao seu alcance para o bem de sua família.

O meu pai... como era bom quando ele estava por perto. Como era bom tê-lo como pai.

Uma mãe - enfermeira, que decidira deixar de trabalhar quando os filhos nasceram porque queria criar seus filhos. Queria aproveitar todos os momentos possíveis, ensiná-los a agir corretamente, a ser éticos, queria formar personalidades saudáveis, pessoas felizes. Queria estar por perto sempre que eles precisassem.

A minha mãe... como era bom quando ela estava por perto. Como era bom tê-la como mãe.

Um garoto - de dez anos, que adorava jogar futebol, pegar onda, judô, andar de bicicleta, andar de patins... também gostava um pouquinho de estudar - só um pouquinho (ele dizia)... o suficiente pra não ficar de recuperação... mas mamãe se encarregava de fazê-lo aprender de verdade.

O meu irmão... como era bom quando ele estava por perto. Como era bom saber que ele era meu irmão.

Eu - uma garotinha de sete anos, que adorava tudo o que meu pai fazia, tudo o que minha mãe fazia e tudo o que meu irmão fazia (hoje fico pensando se eu não tinha personalidade naquela época).

O que mais me lembro daquela época, ou melhor, o que só lembro daquela época é que minha vida só era boa quando estava junto com um dos três, pelo menos.

É, eu tivera a sorte de nascer em uma família feliz... equilibrada... amorosa. Foi com essa família que passei os primeiros sete anos de minha vida. E, acredito, que era para eu passar mais outros sete, mais sete e mais sete anos, pelo menos, com essa família. A minha família.

Mas não aconteceu assim. Cedo eu aprendi que a vida toma os caminhos que quer, sem consultar os verdadeiros interessados - nós.
Eu acho que a vida poderia ser maravilhosa... se nela só existisse o Jorge e eu.

O Jorge é o único que me vê quando quero que ninguém me veja... é o único que me entende, que sabe quem realmente sou... O Jorge sou eu masculino.

O Jorge...  por que não consigo esquecê-lo? E por que não consigo amá-lo? Será que o amo e o que acontece mesmo é que não consigo admitir?

Há dias em que me odeio. Por que tenho de ser tão complicada? Por que não consigo simplesmente ser como as pessoas que levam a vida na boa... amam e são amadas... ficam juntas... abraçam-se e quando não conseguem mais abraçar-se simplesmente se separam e seguem com sua própria vida?

Por que não consigo simplificar as coisas? Seria... ou é... tudo tão simples: o Jorge me ama e ponto. O Jorge é maravilhoso e ponto. Qualquer mulher deste mundo daria tudo pra tê-lo ao lado... e eu fico aqui esnobando... e ponto.

Um dia ele vai deixar de me amar... pelo menos de me amar tanto assim - como ele me ama - e aí a vida vai ficar vazia... então, digo pra mim mesma, 'faça alguma coisa'... 'ame o Jorge e ponto'.

O Jorge sabe que escrevo... só não sabe que escrevo publicamente... o nome dele na verdade nem é Jorge... jamais iria expor quem gosta tanto de mim.

Jorge, se você um dia ler este texto e se identificar nele, só quero que saiba que não esnobo você... eu daria a minha vida só pra amar você...

Mas eu não consigo :(

Será que isso tem a ver com quando eu tinha sete anos?

domingo, 28 de abril de 2013

Apertei a mão de Number One, olhei nos olhos dele, trocamos algumas palavras, ouvi-o responder a todas as perguntas que eram feitas... comi qualquer coisa que me foi oferecida, bebi refrigerante... perambulei pelo salão, cumprimentei uns, conversei com outros.. e decidi ir embora.

Saí à francesa. Com uma sensação de que alguma coisa tinha sido perdida, de que eu estava deixando algo para trás, sensação de um dever não cumprido... sei lá. Só sei que saí de lá com uma sensação estranha.

Saí triste...

Quando eu tinha sete anos, eu vivia feliz com meus pais e meu irmão, Thiago. Nós formávamos um típica família de comercial de margarina. Éramos felizes.

Meu pai, um homem de 1,85 era a pessoa mais bacana que alguém pode ter por perto. Sua sensibilidade tornava-o um ser especial. Pra mim, ele era um super-herói - desses que a gente vê em filmes salvando as pessoas.

Ele sempre me salvava. De uma onda forte que me derrubava na praia. Do cachorro do vizinho, que às vezes fugia pelo portão e com suas patas enormes quase me jogava ao chão - não fosse meu pai pegar-me rapidamente no colo, fazer uma cara bem feia e gritar pro cachorro sumir da nossa frente. Dos pesadelos que me deixavam completamente molhada - isso mais ou menos até meus cinco anos - depois eram só pesadelos... secos. Dos fantasmas que rondavam nossa casa - na minha fértil imaginação.

Eu não gostava de dormir no escuro, ele sempre deixava uma luzinha  acesa até eu adormecer.
Eu não gostava de ervilhas, então ele sempre lembrava de pedir cachorro-quente sem ervilhas pra mim.
Eu adorava brigadeiro, ele sempre os fazia pra  mim.

Eu gostava de ouvir história, e ele lia todas as noites.

As mil e uma noites (eu me imagina sendo Sherazade, uma jovem de beleza e inteligência extraordinárias e, como ela, enfrentaria o poder do grande Sultão Shariman e conquistaria seu coração); Moby Dick (um livro com capítulos enormes e outros menores, exatamente como são as ondas do mar); O pequeno príncipe (Le Petit Prince, este meu pai leu em fracês/traduzindo pedacinho por pedacinho... acho que foi aí que surgiu meu amor por línguas estrangeiras); Polyanna (juro que tentei viver o 'jogo do contente'.... tive uns 5 % de sucesso em cada tentativa); O menino do dedo verde (mil vezes toquei coisinhas para ver se surgiriam plantinhas.... não peciso dizer que isso nunca aconteceu); Monteiro Lobato (fui Narizinho, ganhei até uma boneca de pano, a minha Emília, tinha até meu próprio pomar na casa do vovô).

E ele lia, lia e lia....

e eu, deslumbrada, ouvia e pensava: 'como é que pode ter tanta coisa maravilhosa nas páginas dos livros?'.

E eu acreditava que a relidade ia se apresentar sempre assim (como nos livros que meu  pai leu pra mim)....maravilhosa.
Tá, mas voltando pra festa... vou deixar um hiato de tempo pra explicar minha relação com isso que os seres humanos chamam de amor, certo?

Ainda tocava 'Somebody that I used to know', de Gotye Feat, quando Betriz  e eu nos aproximamos de Number One. O meu coração batia acelerado, eu sentia um calor subindo pro rosto... 'iii - pensei - vou ficar vermelha'.

E Beatriz nos apresentou. E ponto.

Ele educadamente apertou minha mão... um aperto de mão firme (você sabe.. diferente daqueles apertos de mão que não parecem um aperto, a pessoa apenas segura sua mão, como se apenas estivesse cumprindo uma obrigação social - sem interação nenhuma). O aperto de mão dele é de quem demonstra segurança, de alguém que, embora cercado de muitas outras pessoas, no momento da apresentação está só com o apresentado... só com você.

Uma meia dúzia de palavras, as de praxe. E ponto.

Logo apareceu outra pessoa - Dra. Carla - interessadíssima em saber tudo sobre a partida para a África, e Number One voltou seus olhos, seu corpo, sua atenção para ela.

Depois fiquei sabendo que eram amigos de longa data; que ela acabara de chegar da Europa (onde fora fazer doutorado); que fazia muito tempo que não conversavam face to face...etc., etc.

Claro... ele foi corretíssimo... eu estava apenas sendo apresentada a ele... ou ele a mim - tanto faz. E várias outras pessoas também foram e seriam apresentadas, apenas.

Meu Deus como fiquei decepcionada. Eu esperava que ele largasse a festa e só conversasse comigo... eu tinha tanto pra falar - afinal havia passado um bocado de tempo pesquisando sobre ele no Google. Queria dizer como achava incrível seu amor pela dor das crianças, dos pais, dos sofredores africanos, seu amor por um povo inteiro; queria falar sobre seus artigos, suas pesquisas...

Mas não falei nada. Claro que Beatriz e eu não nos afastamos, ficamos ouvindo-o conversar com Carla e nos limitamos a balançar a cabeça em aprovação, a arregalar os olhos quando ele mencionava algo atroz sobre o sofrido continente... ficamos as duas aí... fazendo meneios e as caretas tradicionais de quem está ouvindo atentamente.

A atenção dele estava voltada à Carla, mas é claro que seus olhos passavam por nós duas (Beatriz e eu) às vezes, deixando-nos à vontade para ficar na rodinha de pessoas que pouco a pouco aumentava.

Mas houve um cruzar de olhos... um único cruzar de olhos que penetrou profundamente no meu coração (e no dele também - depois ele me disse).

Sabe!? Eu não acredito em flecha de Cupido... mas no momento desse olhar alguma coisa aconteceu... talvez eu tenha de rever minhas crenças nesse tal de Cupido.

Ah! eu não percebi na hora a flechada.... e ah! também fiquei aliviadíssima de me livrar da sensação de que algo iria acontecer...(que, na verdade aconteceu, mas eu só percebi um bom tempo depois).



sábado, 27 de abril de 2013

E se eu nunca conseguir amar Jorge?

Você deve estar se perguntando, porque me preocupo com isso. Na verdade não é uma preocupação. Vou explicar... tentar explicar.

As pessoas não foram feitas pra ficar sozinhas. Elas se apaixonam e querem ficar perto, querem ficar juntas. Tem todo um romantismo por detrás disso, eu sei... o coração acelerado, as mãos que tremem, a voz que falta, as ideias que saem pela boca de forma atrapalhada, os olhos que falam... e eu poderia ficar aqui enumerando mil consequências de se estar apaixonado.

Mas sou pouco romântica... nada romântica. As pessoas se apaixonam para dar continuidade à vida. Se ninguém mais se apaixonasse, as pessoas não faria sexo, não gerariam bebês, e ninguém, mais nasceria... e seria o fim.

E a natureza, ou seja lá o que for que comanda este Universo, não quer que cheguemos ao fim. Então resolveu achar um jeitinho de as pessoas sentirem-se atraídas umas pelas outras, fazerem sexo, gerarem bebês e multiplicarem a si próprias.

Você sabia que há fatores que fazem as pessoas sentirem-se atraídas umas pelas outras? Coisas como odores, sons... dependendo da pessoa... atrai você e, pimba, você se apaixona. E aí você cerca esse fato de rosas vermelhas, músicas românticas, pequenas tolas surpresinhas... só porque você está apaixonad@. É a natureza fazendo seu próprio papel... só.

Cara, isso aconteceu só pra você se dispor a procriar... pode romantizar.... mas, no fundo, no fundo... você foi programad@ pra fazer bebês.

Há uma química sexual... instintos básicos... o bom parceiro é aquele que cheira bem.

E o Jorge cheira bem...além de tudo aquilo de lindo que já contei pra você.

Você está acompanhando meu dilema?

Ele é tudo.... só que eu não quero nada, nunca vou me apaixonar, é decisão tomada. Burrice? Sim, sim... eu sei...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Além de tudo o que Jorge é e já contei pra você, há outras qualidades.

Sabe uma pessoa honesta? Pois é... o Jorge é. Ele é completamente verdadeiro em seus atos e declarações. Ele é honesto com ele mesmo e com os outros... e eu acho que isso confere a ele uma serenidade sem tamanho.... que me faz tão bem.

Quando ele descobriu que estava apaixonado por mim? Foi em um trabalho de Fotojornalismo I. Em dupla, tínhamos de fazer uma pesquisa sobre Elementos da história natural e um Laboratório fotográfico de técnica e prática com luz natural. Formamos uma dupla da pesada...

Nós dois somos fissurados por história... história de qualquer coisa, conhecer o passado nos fascina; e fotografia? Bem já falei é um de nossos hobby.

Na época ele já morava em Santo Antonio de Lisboa, havia se mudado da Beira Mar Norte onde morava com seus pais desde sempre... e havia comprado uma casinha maravilhosa no alto do morro mais alto de Santo Antonio.

A vista espetacular... em qualquer momento do dia. Lembro que fizemos uma montanha de fotos; foram três dias forografando nas mais diversas horas do dia... só parávamos pra comer a melhor comida da ilha, feita pela D. Diná.

E foi aí me vendo comer, me vendo apaixonada pela fotografia, me percebendo fissurada por história que ele se apaixonou.

Este foi nosso primeiro trabalho juntos... e depois todos os outros do semestre.

Ele se apaixonou e me falou... mas eu não me apaixonei. Ele é um ser apaixonável, totalmente apaixonável, tem todas as qualidades pra me fazer feliz... só não consigo amá-lo. Não do jeito que uma mulher ama um homem.

Lembro-me de que na época comecei a me afastar devagarinho... o que ele não deixou de perceber.

Claro, ele é homem, um homem com H maiúsculo... foi corajoso e me disse: 'sei, você não está apaixonada por mim... tudo bem... se você ao menos gosta da minha companhia... serei seu amigo... o lance do amor eu resolvo'.

'Não quero perder de conviver com você só porque estou apaixonado por você.'

E foi assim que nos tornamos os melhores amigos do mundo...E ele continua apaixonado, sabe que eu não o amo... mas somos dois adultos que se fazem bem..

E no meio de tanto mal, você ter o privilégio de estar com alguém que te faz bem, no fim é o que conta... por isso é que em qualquer situação de perigo, de dor, de tristeza, de insegurança, de stress, de vontade de sumir, de falta de chão,  é o Jorge que quero do meu lado... e sou eu quem ele quer do lado.

O único problema: acho que ele não perde a esperança de eu vir a amá-lo...

E se eu nunca conseguir amá-lo?
 
 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Como você imagina uma pessoa pra ficar do seu lado pra sempre?

Não importa que tipo de qualidades você espera que essa pessoa tenha... algumas delas, ou todas, com certeza o Jorge tem.

Você quer uma pessoa inteligente.... o Jorge é.... ele lê nas linhas e nas entrelinhas.

Você quer uma pessoa amável... o Jorge é... ele faz pelos outros o que precisam sem esperar nada em troca.

Você quer uma pessoa bem-humorada... o Jorge é...

Você sabia que a palavra 'humor' vem de humus, que em grego significa líquido, ou seja, uma referência ao estado de espírito e saúde. Bem-humorado é a pessoa que está em harmonia com seus humores.... não se importa com rumores...

Já li que quem é inteligente é bem-humorado e que que é bem-humorado é inteligente.... não sei se acredito muito nisso não... conheço pessoas inteligentes muito mal-humoradas e vice-versa.

Mas o Jorge é as duas coisas... inteligentíssimo e bem-humoradíssimo... com ele tudo o que é bom é no superlativo.

Você quer um pessoa bonita... o Jorge é... lindo, lindo, lindo... lindíssimo!

Engraçado, mas eu passei o resto da festa pensando no Jorge, pensando em como ele me faria bem se estivesse comigo, como me daria segurança. É, definitivamente, o Jorge é o meu porto seguro...

E naquela festa eu perdi o chão... minha vida virou de ponta cabeça... toda certeza do que eu queria pra minha vida acabou - claro que eu só percebi tudo isso um tempo depois da festa ter acabado... um bom tempo depois...

Continua....

segunda-feira, 22 de abril de 2013

De repente eu vi Number One.... Paralisei. Os olhos ficaram fixos nele. Foi olho no olho por um segundo apenas... mas foi um olhar que penetrou a minha alma - claro que só percebi o que acontecera naquele momento muito tempo depois. Não tive consciência ali naquele exato momento da importância que esse homem faria pra minha vida.... do que ele traria pra minha vida. Não soube naquele cruzar de olhos, evidentemente, que estava diante de alguém que um dia amaria como nunca amei ninguém.... nem amarei. Um amor único na vida...

Soube de tudo isso um tempo depois.

Sei muito pouco sobre esse amor que une duas almas. Esse amor que não há força que derrube, que não há tempo que acabe, que não há distância que separe. Esse amor que se manterá amor em qualquer mundo deste nosso Universo. Esse amor que é um elo que jamais poderá ser desconectado. Quando Deus (e agora estou no meu momento de acreditar que há algo bem maior que chamo de Deus) determina que duas almas são uma para outra, elas são... serão pra toda a eternidade. Esse amor que mantém os pensamentos ligados pra sempre.

Acho que esse tipo de amor foi feito em outra dimensão... acho que foi uma alma só, um corpo só... e que foram, tanto uma quanto o outro, divididos e só se tornarão completos quando juntos... juntos corpo e alma.

Sei muito pouco sobre isso porque decidi há muito tempo que jamais iria deixar um amor assim se apossar de mim. Tenho domínio próprio, controle total... só entra na minha cabeça e coração o que eu deixo entrar (pensamentos, sentimentos)... e se algo do tipo me invade sem que eu perceba, expulso a pontapés e safanões.

Ele também sentiu o olhar... e tudo o que sentiu ele demorou muito pra me contar.

Beatriz pegou na  minha mão e disse: 'Vamos lá... vou apresentar o dono da festa pra você'.

E meu coração parou... e depois acelerou como um louco. 'Que coisa de louco', pensei eu...'Cadê meu equilíbrio?'

Estranhamente, no resto da noite, só consegui pensar em Jorge. Só consegui querer que ele estivesse do meu lado.

 

domingo, 21 de abril de 2013

Estava tocando 'Somebody that I used to know', de Gotye Feat. Kimbra. Adoro essa música... a melodia, a voz dos dois... e a letra. Que letra real, cotidiana.

Acho que ela resume a história de muita gente... Pense em um relacionamento qualquer... no início você ouve e você diz 'sou a pessoa mais feliz do mundo'... 'agora eu poderia morrer'... 'você é a pessoa certa pra mim'... etc., etc., etc., ad infinitum.

Mas nada é infinito... nem esse amor - que você julgava ser pra toda a vida. O que era amor... acho que não era bem amor... era outra coisa. Uma coisa boa, temos de admitir, mas não era Amor, com letra maiúscula.

... não sei, acho que às vezes idealizo o amor.

Mas, voltando pra aquilo que achávamos ser amor, quando percebemos não ser amor, pensamos: talvez a gente possa ser amigos... talvez.

Alguns conseguem... mas quando encontram um novo amor... aí as coisas mudam, esse novo amor tem ciúmes, ou dedicamos todo nosso tempo, energia, atenção pra esse novo amor - o que particularmente acho que é certo. E aquela amizade vai desaparecendo, desaparecendo, como o sol desaparece no fim de tarde... devagarinho, devagarinho... transformando o dia em noite.

É por essa, dentre outras razões, que eu jamais vou amar alguém. Tenho motivos suficientes, dores suficientes pra não me apegar de verdade a ninguém. Estou inteira com todos... estou inteira com ninguém.

Mas, voltando pro salão. Não sabia se procurava primeiro a morena linda ou Number One... meus olhos pulavam de pessoa em pessoa, iam de norte a sul... de leste a oeste... deram até algumas escapadelas pro jardim. Não viram nem um nem outro.

Parei pra conversar um pouquinho com minha colega e amiga Beatriz. Beatriz é ortopedista, seu consultório fica no andar de cima ao meu, temos os mesmos horários de consultório, praticamente fazemos plantões nos mesmos dias e horários, frequentamos a mesma academia... e temos... fazemos um monte de coisas igual e ao mesmo tempo.

Mas há entre nós um diferença: ela crê 100% de seu tempo em Deus... eu... bem, eu nem sei se creio ou não creio. Como já disse: às vezes Ele parece tão real que é possível tocá-lo... noutras simplesmente é inadimissível que Ele exista - dado o mundo que aí está.

E fiquei aí conversando com minha amiga que quase esqueci do real motivo de eu estar tão enfeitada pra aquela festa.

 

domingo, 14 de abril de 2013

Eu sei, eu sei... um pouquinho exagerada toda essa produção pra uma festinha de despedida num dia de semana, depois do expediente...

Mas, chame de sexto sentido ou sei lá o quê, eu precisava ser notada pelo Number One. Nem que fosse pelo exagero.

E tinha aquela garota linda... linda, não... lindíssima do face. E se ela estivesse lá? Poderia estar de jeans velho e desbotado, e regata... ainda assim seria mil vezes mais bonita do que eu.

Falando em beleza, não sou nenhuma beldade não. Não sou feia, sou  normal, bem normal. Meu rosto é um pouco redondinho, meus olhos são castanhos esverdeados, meu nariz é proporcional ao rosto... acho que só meus lábios merecem que eu fale deles. São saudavelmente carnudos, mantenho-os bem hidratados e uso sempre um batãozinho pra dar uma corzinha. Fora isso, nada em mim chama a atenção.

Meus cabelos... castanhos, um pouco ondulados, na altura dos ombros... normais.

Tenho 1,70, peso 59 kg, procuro manter uma boa postura, vou à academia pelo menos três vezes por semana, ando de bicicleta e faço longas... longuíssimas caminhadas. Sempre que possível com meu amigo, Jorge.

Cuido da alimentação - às vezes, como um monte de besteira, três ou quatro dias seguidos, depois volto ao normal. Bebo bastante água, não fumo e nada de álcool. Isso tudo ajuda a manter a pele saudável. E é só. Então, não me imagine como aquelas lindas atrizes de cinema ou de novela.

Agora, a garota do face... essa sim... você pode imaginá-la belíssima. E se um dia tiver a oportunidade de cruzar por ela nas praias da nossa Ilha da Magia, com certeza vai pensar 'muito mais linda do que imaginei'.

Então exagerei na produção... Tudo bem, é por uma boa causa, acho.
A noite estava fresquinha... um ventinho leve soprava... o vento Sul tinha tomado seu rumo. O único satélite natural da Terra aparecia e sorria pra logo desaparecer atrás das nuvens que lentamente  passeavam pelo céu. Ao longe o ribombar de um trovão... o resto tudo quietinho, quietinho... um silêncio que só era quebrado por uma música e o som de vozes abafadas, dentro do salão de festas.

Passava um pouquinho das 21 horas quando cheguei à festa. Já estava todo mundo lá... comendo, bebendo, sorrindo, dançando... se divertindo... tudo exatamente como acontece em qualquer festa. Então, não vou contar detalhes, tenho certeza de que você consegue visualizar sem minha ajuda, sentir sem minha ajuda, ouvir sem minha ajuda... acertei, não é?

No meio de toda aquela gente eu procurava o dono da festa. Claro que demorei para encontrá-lo... nem sabia exatamente quem procurar. Havia o pessoal da clínica, mas havia também outras pessoas, pessoas que eu nunca tinha visto antes.

Cumprimentos, beijinhos, abraços... e fui passando pelo salão. Os meus olhos andavam mais rápidos que os pés. Estes tinham de parar de vez em quando e esperar que eu respondesse aos cumprimentos, agradecesse os elogios.

Sim, eu me arrumei todinha pra festa.

Sou uma pessoa básica, bem básica. Meu look principal: jeans, camiseta ou camisa, tênis ou sapatilha (sempre brancos)... o meu colorido está nas camisetas e camisas... ah! e nos lenços... a-do-ro lenços... tenho-os de todos os tipos, cores e sabores...

Mas, pra festa, eu me produzi. E, é claro, que ninguém conseguiu deixar de perceber... 'onde está a Doc básica que conhecemos?', ouvi pelo menos  meia dúzia de vezes.

Vestido de musseline com um toquezinho de seda azul-marinho, com apenas um ombro e três saias sobrepostas. Um cinto do mesmo tecido, com um laço delicadíssimo...Sandália salto 10 (que me atrapalhou um pouquinho pra andar com elegância), prata, com um laço de festa, também delicadíssimo. E uma pulseira trançada com fio de strass... quase invisível... mas brilhava conforme eu mexia o braço... muito linda! E, modéstia à parte, eu também estava muito linda...

Ah! a pulseira foi presente do Jorge.

sábado, 13 de abril de 2013

Ah! que maravilha é a tecnologia. Você digita o nome de alguém no Google e em instantes uma enxurrada de informações. Nem preciso dizer que li tudinho a respeito do 'dono da festa'.

Nossa... o cara é bom mesmo...uma quantidade enorme de artigos... a tese dele é simplemente espetacular. Ele lida com a doença, com a morte... mas o que ele tem mesmo é vida.... amor pela vida, um entusiasmo, uma vontade de ajudar, de fazer algo bom, deixar sua marca.

Mas eu estava mesmo curiosa pra ver como ele era fisicamente. Melhor lugar: facebook. Claro que tenho. Então entrei no face dele louquinha pra ver fotos, fofocas, vida social, etc., etc. Mas, confesso que me decepcionei.

Havia uma foto na capa... de alguém em uma manobra dentro da onda.... tubo. Acho que era ele. A foto era fantástica, mas nem com todo o esforço do  mundo consegui distinguir os traços físicos do surfista.... e só.

Havia um álbum de fotos... mas todas do mar, surf, pranchas... nada que o identificasse.

E havia postada uma foto de uma festa... um monte de gente (sem marcações). Resumo da ópera: só vou ver o rostinho do doctor na hora da festa.

E tinha algumas frases, links de textos, fotos... tudo da África. Dedução: o cara é amarradão na África mesmo. Definitivamente ele desenvolveu um amor incondicional por esse continente.

Pra encerrar: já estava curiosa... agora mais ainda. Um médico, surfista, amante da África.... que combinação interessante pra alguém que logo, logo vou chamar de Number One.

Só não gostei de uma coisa no face... uma tal de Ana Carolina - uma morena lindíssima curtiu tudo o que ele postou e, ainda por cima, comentou tudinho, tudinho...Quem será essa chata?

Ai meu Deus, será que estou com ciúmes? Não, não, nem conheço o cara ainda... não pode ser. Ou pode?

Sexto sentido?

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Claro que fiquei tentada a perguntar se ela iria a festa do ilustre 'desconhecido'... só tentada. Faltou-me a coragem que há nela.

Em minha sala o laptot já estava ligado... com um clique apareceu a tela com as informações sobre minhas atividades até o fim do dia. Minha secretária é simplesmente exemplar.

Consulta... consulta... paciente desmarcou consulta... ops, isso é ótimo. Estou curiosa demais pra conhecer o Mister 'desconhecido', vou aproveitar esse horário livre pra fazer uma pesquisa no Google... facebook... sei lá mais o quê. Vou descobrir tudinho desse amado de todos.

Os dois atendimentos foram tranquilos... ambos eram retorno para acompanhamento e, graças a Deus, o tratamento estava surtindo efeito e os efeitos colaterais eram perfeitamente contornáveis, aceitáveis, conviváveis (acabei de inventar esta palavra, não procure o significado no dicionário porque lá ela não está).

Mas, se você ficou curios@ para saber o que quer dizer, eu explico.

Há efeitos colaterais que quase matam a pessoa fisica ou psicologicamente. Há efeitos colaterais 'conviváveis', quer dizer, dá pra conviver com eles tranquilamente. Dependendo do medicamento, há diminuição da ânsia, queda de cabelo, diarreia. E essas minhas duas pacientes estavam no quadro daquelas que reagem bem ao medicamento receitado... Melhor qualidade de vida.

Melhor qualidade de vida. Ou uma vida com qualidade, ou morte... pra mim é assim. Há tratamentos aos quais meus pacientes são submetidos que jamais eu receitaria pra mim. Não tenho medo da morte..portanto, ou vida com qualidade, ou morte. Mas, é claro, há pessoas que não pensam assim e, então, submetem-se a qualquer tipo de tratamento. Agarram-se à vida com todas as suas forças e vão vivendo do jeito que dá.

Eu... não. Se um dia a doença chegar, vai chegar e me matar... não encontrará resistência nenhuma em mim.

domingo, 7 de abril de 2013

No corredor, encontrei Cássia - o general. Assim ela era chamada.

Suas atitudes duras, decisões inflexíveis, seu tom sempre tão autoritário tinham lhe dado a fama. E eu a via e lembrava, invariavelmente, da obra de Shakespeare, 'Otelo, o Mouro de Veneza'. Cássia era o oposto desse personagem veneziano estimado, leal, que inspirava grande confiança, e tinha atitudes nobres. Só numa coisa os dois se pareciam: na coragem... ela, principalmente, a coragem de andar tranquilamente pelos corredores, sabedora do sentimento que a clínica toda nutria por ela.

Cássia, Dra. Cássia...  A cardiologista (com A maiúsculo mesmo)... um ser humano totalmente desprovido de humanidade.

Cumprimentei-a, ao que ela respondeu com um aceno da cabeça, sem tirar os olhos do chão.

Segui em frente, pensando: O que leva uma pessoa como essa escolher uma profissão na qual temos de ter as características que Sir William Osler discute em seu livro, Aequanimitas.

Continua...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

No elevador, duas enfermeiras conversavam sobre a festa de despedida.

- Que pena que DMD vai embora... e nunca mais vai voltar - dizia uma delas.

- Ah é? Ele nunca mais vai voltar?

- Não, não vai... ele sempre diz 'o meu destino é a África'...

- Ele não tem família aqui? Ou tem família e vai levá-la junto pra África?

- Tem família sim... pelo que sei os pais e dois irmãos... mas não é casado. Lembro que ele dizia 'sou casado com a pediatria... amo o que sou, amo o que faço e isso me basta'.

- Hum... entendi... o eterno solteirão, bom partido que vai partindo corações, mas nunca se envolve...

E não consegui ouvir o resto da conversa porque elas saíram no 6º andar. Curiosa, assim que me senti no restante do dia... volta e meia voltava à minha mente um DMD sem rosto, que me intrigava. Quem seria ele? Como seria ele? Por que era tão querido pelas pessoas que o conheciam?

Mas, o mais intrigante era eu volta e meia voltar a pensar nele... sexto sentido? Sei lá...

Continua....

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Olhei pro relógio. Faltavam cinco minutos para a primeira consulta da tarde. Pensei 'dois minutos para ver os preparativos no salão... um minuto para subir pro meu consultório... três minutos para escovar os dentes, lavar mãos e rosto, e passar um cremezinho, retocar a maquiagem e estarei prontinha pra mais turno de trabalho'.

Então, em vez de pegar o elevador, me dirigi ao salão de festas. Um salão grande, de aproximadamente 100 m², moderníssimo, decorado com extremo bom gosto. Obra de nosso amado diretor, Dr. Ed.

Logo na porta encontrei Ana Maria, a nossa recepcionista noturna. "Fazendo hora extra?", perguntei, sorrindo... "sim, sim... por uma boa causa", respondeu ela mostrando os dentes mais perfeitos que já vi em minha vida. "É o DMD que vai partir... vai embora e, como diz ele, pra nunca mais voltar."

"Hum,,, está certo... então à noite venho conhecer esse tal de DMD... que vai embora pra nunca mais voltar", falei pra ela dando uma última olhada pro salão.

Balões coloridos, mesas com toalhas branquinhas, branquinhas... copos, taças de cristal, pratos, talheres... e várias caixas que, deduzi, deveriam ser de docinhos da Marta. Sempre, em nossas festas no salão, quem faz os docinhos é a Marta... porque todo mundo que gosta de doces, adora os docinhos dela.

Chuviscava lá fora... 16 horas... minha última consulta do dia. Que bom, teria um tempinho pra ir pra academia, passar no supermercado (faltava de tudo em casa) e me preparar para a festa de despedida de alguém que eu nem conhecia. "E nem conheceria", pensei eu... é impossível conhecer alguém, conhecer pra valer, em duas ou três horinhas de festa... de sua despedida."

terça-feira, 2 de abril de 2013

No estacionamento, encontrei o diretor do hospital, Dr. Edgar. Pense em uma pessoa invadida pela bondade humana. Assim é o Dr. Ed, como chamamos carinhosamente.

"Então, querida, vai participar da festa?" "Festa? Que festa? Aquela perfumada que vai acontecer no salão?", perguntei eu. "Festa de quem? Do quê?"

Ele sorriu e disse "é uma longa história... vamos indo que te conto".

Passamos pelo estacionamento que já estava quase lotado. Havia algumas pessoas conversando na entrada do hospital e o vaivem de caixas, balões parecia ter diminuído. E ele me contou a linda história de DMD, o Number One, de quem falei no início.

Devagarinho vou contar pra você. O que importa saber agora que era uma festa de despedida de alguém muito querido, pela humanidade inteira (pelo jeito carinhoso como Dr. Ed falava sobre ele).

DMD ia pra África.

Àquela hora da tarde o sol brilhava bem em cima de nossas cabeças. Brilhava e se escondia, parecia brincar de esconde-esconde. "Olha eu aqui!" "Agora não estou mais."

Grossas nuvens escuras preanunciavam chuva, que poderia vir ou não. Talvez o forte vento sul que soprava desde cedo levasse-as para longe... talvez não. Nunca consigo acertar se chove ou não quando olho pro céu.

Claro, eu não perderia a oportunidade de conhecer 'essa pessoa tão bacana, tão humana, tão... tão'.

E aí a onda de melancolia ficou mais forte. 'Melancolia' significa um estado de tristeza e apatia que invade alguém. Dizem que a melancolia "é um tipo de depressão e possui os mesmos sintomas: a pessoa não se interessa por nada ao seu redor, nenhum acontecimento traz prazer ou alegria e a vida deixa de ter interesse".

Pela definição não era melancolia o que eu sentia, porque me interesso por tudo, ou quase tudo, o que acontece ao meu redor...

Na verdade, não sei explicar muito bem o que me aconteceu... um aperto no coração, talvez isso, sim acho que foi isso.