domingo, 30 de junho de 2013

O cansaço me venceu... adormeci por poucos segundos... pelo menos foi o que me pareceu quando o despertador tocou.

Não preciso de despertador. Todas as manhãs - normais - acordo exatamente um minuto antes de o despertador tocar... Acordar nas manhãs frias de inverno ou de verão (ar-condicionado sempre ligado no máximo = inverno no verão), com o despertador tocando ou não... simplesmente não é problema pra mim.

Hora de acordar é hora de acordar e pronto

Mas naquela manhã especificamente eu queria dormir pra sempre. Não no sentido de morrer, mas de apagar até o meu coração encontrar novamente a paz.

Que coisa mais incoerente. Conheci Noa há um dia.... um mísero dia. Agora só o que ocupa meus pensamentos é esse homem. Ocupou todo o espaço e deixou o coração tão apertado.

Claro, vou racionalizar tudo o que aconteceu do momento em que meus olhos encontraram os deles até o momento em que ele carinhosamente me abraçou e disse aquela maravilhosas palavras... e adeus.

Adeus não precisa ser pra sempre... já li isso em algum lugar. Claro, não precisa. Mas neste caso é pra sempre.

E quando penso nisso me falta o ar, dói o coração e eu me odeio por isso tudo. Como fui me deixar envolver? Por que segui o cheiro de festa? Por que a curiosidade de conhecer  quem fazia todas as enfermeiras, médicas... sei lá, acho que quase todas as mulheres da clínica suspirar?

Meu Deus como fui idiota. Eu estava tão bem... tão comodamente cômoda no minha área geográfica e emocional conhecida milésimo por milésimo.

E agora isso!!!

Não queria levantar da cama... e não  levantei... fiquei exatamente mais 2 minutos e só. Apesar de tudo, sou muito mais equilibrada do que você pensa.

Foi banho correndo, café correndo e pra clínica voando - como sempre. Não, não tão como sempre... alguma coisa ficou muito diferente em mim.

É possível sentir toda a alegria do mundo e toda a tristeza do mundo no mesmo tempo?

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Acordei no meio da noite... Eram 4 horas... daí a três horas, Noa deixaria o Brasil. O sono foi embora... tentei me concentrar no livro que estava relendo pela terceira vez ''Todos os homens são mortais''... parei quando me dei conta de ter passado duas páginas e de não lembrar nada do que recém havia lido...

Google... li alguns artigos de Noa... passei as fotos pro face e fiquei na página de Noa. Analisei cada pedacinho dela pra ver se eu conseguia arrancar mais e mais informações, pra ver se conseguia torná-lo real na minha vida...

Sinceramente, não fossem as imagens congeladas pelo meu celular... eu juro que pensaria que tudo havia passado de um sonho. Foram mais ou menos dez horas que passamos juntos... e ao mesmo tempo que parecia que tinha sido uma vida inteira... parecia nada.. parecia um momento tão fugaz, tão efêmero... que não valia nada gastar energia relembrando cada segundo, cada gesto, cada sorriso - sorriso mais maravilhoso do mundo... nos lábios e nos olhos.

Fui pra página da linda morena... e senti um ciúmes enorme do tempo que ela havia passado com ele, do que ela conhecia dele e que eu jamais saberia... voltei  pra página dele.

A capa estava diferente... meu coração bateu acelerado como nunca. Era uma das fotos da luminosidade suave do último  pôr do sol de Noa aqui no Brasil... segurei o choro.

Uma coisa eu decidi: nunca me apaixonaria, nunca amaria ninguém, mesmo. Mais uma coisa decidi: nunca choraria por um homem se eu me apaixonasse por ele e fosse um amor não correspondido...

Você pode estar vendo contradições na frase anterior... não, não há nenhuma contradição.

Eu decido um monte de coisas. Mas eu não sou ingênua a ponto de pensar que se decidi está decidido, e o Universo... ou um ser superior que nós pobres mortais... vai acatar humildemente as minhas vontades... milhares de planos já fiz, milhares de decisões já tomei... e milhares foram exatamente pelo ralo.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Será que é verdade isso de alma gêmea? Será que enquanto não encontramos nossa alma gêmea andamos por aí pela metade? Será que realmente são dois pedaços da mesma maçã, laranja... sei lá?

Digamos que sim... que há uma alma gêmea por aí procurando você e você procurando por ela. Enquanto vocês não se encontrarem não há sossego... há falta de um algo que não se consegue explicar muito bem. Um belo dia, numa esquina da vida você encontra e sua alma gêmea encontra você.

E dá um sossego enorme no coração. Não há mais necessidade de procurar... há uma paz do desejado encontrado. A alma gêmea é a exata combinação do que você precisa. Ela tem aquele jeitinho especial que só você tem.... bonito isso que acabei de escrever... é o ideal, o mundo perfeito... nada de defeito.

Será que Noa é minha cara metade? Foi com esta pergunta que adormeci....

Veja que historinha legal que encontrei no google :)

"Certa vez, um discípulo perguntou ao seu Mestre já muito velho, por que ele nunca havia se casado e o Mestre respondeu:
Eu procurava a Mulher perfeita, a minha metade e, assim, várias mulheres foram aparecendo em minha vida e as qualidades que eu buscava e que me preenchiam e satisfaziam; ora encontrava e outras horas não, quando era inteligente, não era culta, quando era sensual, não era bonita, quando era organizada, era chata e por aí afora...
Você quer me dizer que nunca encontrou a Mulher perfeita?
Encontrei, encontrei sim, mas aí foi ela quem me disse que procurava o Homem perfeito e que eu não era ele..."

sábado, 22 de junho de 2013

Chegamos ao Ribeirão da Ilha.....lugarzinho bucólico. Lá você se sente transportado para um outro mundo. O mundo da poesia, da calma, do canto dos passarinhos, das borboletas... é você de pé descalço...contato direto com a natureza.

O Ribeirão é de uma singeleza sem par... é simples, puro... não contaminado - ainda - pelo corre-corre, pela confusão, pela agitação do dia a dia da vida na cidade - só no verão.

Agora era o perfeito cenário de paz e sossego, que Noa precisava para dizer adeus à Ilha de Santa Catarina.

Estávamos com fome e, como eu havia prometido, levei-o ao lugar que oferece as melhores empadinhas do mundo... e comemos, e comemos... felizes, inebriados pelo momento que a vida estava nos dando de presente (isso também percebi depois, em retrospectiva).

Fomos caminhar na areia... o céu azul se tingia dos mais variados tons de rosa... no horizonte os últimos fiozinhos amarelos do sol.... e se fez noite.

Tínhamos de voltar e voltamos. Nenhum dos dois cogitava ficar para sempre ali naquele lugar perfeito.

Agora quando penso nisso, lembro que nossos passos em direção ao carro eram cada vez mais vagarosos...como se nunca quiséssemos chegar ao momento de dizer adeus...

Noa me deixou  no estacionamento da clínica - onde eu havia deixado meu carro. E o que ele me disse nunca mais esqueci, nunca mais alguém conseguiu dizer algo que se aproximasse do que ouvi dos lábios dele.

'Eu havia planejado passar esta minha última tarde sozinho... queria guardar na memória e congelar nas lentes de meu celular o máximo que eu pudesse deste lugar que me acolheu tão bem, que me fez tão feliz. Eu ia passar por todas as praias pra dizer adeus e queria estar sozinho, porque queria estar de corpo e alma todo inteiro em cada lugar - só pra cada um dos lugares. Não por egoísmo... ou uma loucura qualquer... mas por respeito a quem estivesse comigo... eu sei que não conseguiria me dividir - e eu tenho um respeito muito grande pelo ser humano pra ignorar quem está do meu lado.

Eu sabia que minha atenção estava na despedida... eu estou em clima de adeus... talvez eu me comovesse, talvez sentisse vontade de chorar, e se alguém estivesse comigo, eu seguraria as lágrimas... e eu não estaria sendo verdadeiro. E... bem, eu só sei ser verdadeiro.

Mas o destino, a vida, sei lá... chame do que você quiser... colocou você, doc, no meu caminho. Ontem à noite... na minha festa de despedida, você entrou na minha vida... e hoje, de novo, quando vi... aí estava você....

E a única coisa que eu queria era que você não saísse um minuto sequer do meu lado. Quis a vida que você pudesse e se dispusesse a participar da minha despedida - dos amigos... e hoje deste lugar.

Eu havia planejado passar sozinho estas minhas últimas horas por aqui... mas não saiu como planejado: não passei sozinho, passei com você ao meu lado. Agora vou dizer uma coisa e espero que você entenda bem: passar com você foi como se eu estivesse passando sozinho, como planejado...

Deixe-me explicar: é como se você fosse a outra parte de mim... como se você fosse você, mas ao mesmo tempo fosse eu também.

Eu sozinho, ou eu com você não faz a menor diferença... tudo o que eu me permito fazer quando estou sozinho me permito igualzinho quando estou com você. É uma alma em dois corpos...

Queria ser poeta... talvez eu conseguisse descrever melhor o que sinto... é como se eu tivesse rodado o mundo inteiro buscando algo que eu não sabia o que era... e quando meus olhos cruzaram com os seus tive a resposta: o que eu procurava era você. E eu encontrei...

E agora eu vou partir...

Este lugar meu deu muitos momentos alegres... fui muito feliz aqui. E este lugar me deu o pedaço de mim que faltava... Eu sabia que faltava algo, alguém pra me completar... e eu conseguia viver bem com isso... eu pensava: um dia encontro e vejo que não é tão importante e continuo sem o pedaço que me falta.

Mas o pedaço que faltava é a parte mais importante de mim... não sei mais como vou conseguir ir adiante com minha vida sem o melhor de mim... você.'


E você quer saber o que eu pensava?

Noa era bom demais para ser verdade....

domingo, 9 de junho de 2013

Você já quis parar o mundo? Não, parar para descer.... parar para que as coisas ficassem para sempre do jeito em que estão?

Naquele momento, tendo diante dos meus olhos o sorriso mais branco e mais lindo do mundo, a única coisa que eu queria era ter em mãos um controle que eu pudesse apertar a tecla pause..

Eu queria ter o poder sobre minha vida e decidir que aquele seria o momento em que eu viveria eternamente. Aquele foi o momento (até posso estender esse momento... pelos momentos que passeia com Noa) mais feliz, mais perfeito, mais sublime até, que vivi em toda a minha vida.

Não houve momentos assim antes de Noa aparecer em minha vida... e nunca mais eu consegui ter o conjunto de sensações que aquele momento me entregou de presente.

E eu vivi aquele momento totalmente inconsciente de que era o melhor presente que a vida tinha pra mim...

Por que razão essa força que controla tudo e todos não nos alerta para certas coisas? Para certas coisas boas?

Tenho um certo 'sexto, sétimo, oitavo, sentido' para as coisas ruins, para a morte, para as catástrofes... eu pressinto muitas delas... coisa ruins (estas eu preferia nem saber que existem).

Mas a vida é engraçada, ou melhor, não é nada engraçada.. está mais para desgraçada... não tem senso de humor... a vida é traiçoeira, a vida, acho, sente prazer na dor, no horripilante, no sofrimento. Não bastasse me colocar em situações duras, doídas... ela muitas vezes as antecipa - na forma de um sexto, sétimo... oitavo... nono... sentido.

Então me faz sofrer duas vezes: na antecipação e na duração... é dor pressentida e dor sentida... dor  doída... em dobro.

E os momentos bons... bom, esses ela só me deixa ter consciência total depois que passou... é sempre + ou - pela metade... em retrospectiva... já se tornando simples lembrança.

E, como eu sou uma pessoa totalmente do presente, tenho mais dor do que alegrias de presente.

E nós dois seguíamos em direção ao Ribeirão... eu, totalmente imersa no som da voz de Noa e no piano de Ludovico Einaudi.... Divenire (a minha preferida).

O Endereço: se você quer saber o que eu ouvia: Ludovico Einaudi - "Divenire" - Live @ Royal Albert Hall London

sábado, 1 de junho de 2013

Entramos no carro e a primeira coisa que Noa perguntou foi: "Enia está bom pra você?'.... Perfetto!, disse eu.

Noa com a bermuda ainda úmida da água do mar, com areia por tudo, sentou no banco de couro de seu carro de quase duzentos mil reais, como quem senta num fusquinha bem velhinho...

Completamente desprendido este homem...

Vamos pro sul, OK?

'Por que oncologia?', ele me perguntou...

Bem... tenho um relacionamento mórbido com a morte... e ao mesmo tempo um relacionamento de amor... é isso, acho...

Ele sorriu...

Perdi meus pais e irmão quando era pequena. Conheci a dor da morte muito cedo. Sei o estrago que ela causa. Oncologia é um desafio que lancei pra morte.... ela sempre vence, eu sei. Mas não sem antes enfrentar uma luta ferrenha comigo. A clínica toda sabe disso, meus amigos, conhecidos, amigos de amigos... todos sabem.

Quando alguém recebe a notícia fatídica: 'é câncer'... é pra mim que vem. E eu luto, luto como se fosse a minha própria vida em jogo.Mesmo sabendo de que no fim, ela sairá vencedora... eu fico firme... já consegui driblá-la muitas vezes... até que ela chega definitivamente... só então eu jogo a toalha. É isto: oncologia pra lutar contra a morte, ou pra empurrá-la um pouquinho mais pra lá no tempo.

É o que eu faço... empurro-a pra frente o quanto posso.

Sabe uma coisa interessante? Não sou só eu que faço tudo pra retardar a chegada da morte. Tenho pacientes muito ricos - eles têm plano de saúde, sim -, que pagam particularmente as minhas consultas... eu fico sem entender, ou melhor, eu entendo sim... é como se o dinheiro pudesse comprar um pouquinho mais de vida... como se pagando do próprio bolso tivessem mais direito à mais vida, sei lá...

Mas não há nenhuma distinção em meu atendimento: particular, plano de saúde, sus... não importa, pra mim paciente é tudo igual. Quando um chega, coloco minhas luvas de lutadora e nocauteio a morte até quase matá-la.

Mas ela não morre, né!? Então, meio inútil isso que faço - penso às vezes. O que significa prolongar a vida de uma pessoa um ano ou dois? Nada, absolutamente nada. Porque no fim desse tempo, ela inevitavelmente vai morrer.

A minha escolha é o Ribeirão da Ilha... toca pra lá... você vai comer a melhor empadinha do mundo e desistir de ir pra África só pra poder vir pro Ribeirão comer empadinha...

E ele sorriu.... meodeos que dentes brancos perfeitos!!